Um vídeo que mostra o momento em que a estudante cearense Isabella Marques, de 22 anos, recebe o resultado da aprovação em Medicina no vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece) viralizou nas redes sociais, neste sábado (2). O destaque é a reação eufórica dos colegas da jovem ao perceberem que ela foi aprovada. Há cerca de um ano, ela foi diagnosticada com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
No vídeo, que até este sábado (2) possuía quase 95 mil curtidas e mais de 700 mil visualizações no Instagram , a jovem aparece sentada em uma mesa conferindo o resultado do vestibular por meio de um smartphone, enquanto os outros colegas a observam com uma expressão de ansiedade. Instantes depois ela tem a confirmação do resultado da aprovação e todos começam a pular, gritar, chorar e abraçar a estudante.
“Em primeiríssimo lugar, meu Deus, obrigada! Valeu a pena cada lágrima que derramei perante ao Senhor, valeu a pena dobrar meus joelhos todas essas noites, valeu a pena fazer jejum… meu coração se quebrantou e meu clamor chegou a ti! Obrigada por todas essas bençãos”, escreveu ela na publicação nas redes sociais.
Estudante fala sobre estudos e preparação
Em entrevista exclusiva ao Portal GCMAIS, Isabella afirmou que a preparação para a aprovação começou há cerca de cinco anos. Como método de estudo, ela optou por fazer um cursinho particular e resolver questões de vestibulares antigos.
“Foram 5 anos e meio perseguindo esse sonho! Foi muito difícil pra escolher um método de estudo, pra adaptar minha rotina, pra tentar dar conta de tudo! O cursinho basicamente me deu todo o suporte! Aulas, materiais didáticos, impressão de provas antigas, tudo! Meus primeiros 2 ou 2 anos e meio foram bem ruins porque eu não tinha um método de estudo muito eficaz. Eu focava muito em fazer resumos bonitos e ler a matéria, deixando questões e revisão de lado. Então eu me adaptei, comecei a fazer as provas antigas da UECE, simulando tempo e a nota de corte”, relata.
Descoberta do TDAH
Em 2022, uma situação ligou o sinal de alerta da estudante. Ao perceber uma queda de rendimento no vestibular do ano de 2022, ela procurou o médico e recebeu o diagnóstico do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
“No vestibular de 2021.1 fiquei a uma questão do corte pra entrar na segunda fase, foi nesse momento em que eu percebi que estava indo pelo caminho certo! Não teve prova 2021.2, então fiz o vestibular de 2022.1, mas caí 11 questões e percebi que algo estava errado. Foi quando eu fui diagnosticada com TDAH. Então, veio a prova de 2022.2, passei pra 2a fase com o 3° maior número de questões (77), mas me desestabilizei emocionalmente durante as provas da 2a fase, e acabei não passando”, afirma.
Com uma rotina de até sete horas de estudo, Isabella se dividia entre resolver questões de provas e simulados, até que no vestibular de 2023.2, conseguiu alcançar o feito e afirma ser muito grata a Deus pela conquista.
“Então, comecei a estudar novamente em fevereiro deste ano. Estudava aproximadamente 6 ou 7 horas por dia e dividia meu tempo fazendo as provas das edições anteriores, uma pra cada dia da semana, simulando tempo e nota de corte, e pela tarde e noite estudava os conteúdos os quais tinha dúvidas, até que consegui a tão sonhada aprovação. Mantive minha relação com Deus muito ativa. Não acredito em coincidência, e eu fiz um propósito com Deus, jejum e tudo, e deu certo! Acredito que Ele viu tudo e me honrou”, celebra.
Repercussão do vídeo
Isabella ainda não sabe explicar como o vídeo repercutiu de forma tão expressiva e afirma que a reação dos amigos representa a alegria coletiva de todos os que a apoiaram e sempre estiveram do lado dela acreditando que seria possível passar no vestibular.
“Eu fiquei super abismada com a repercussão do vídeo! Ainda estou, na verdade, por conta que assim que postei ele viralizou e agora viralizou de novo. Eu realmente estou muito feliz por ver tantas pessoas se emocionando com a nossa conquista. Digo “nossa conquista” porque ela foi de todos aqueles que estavam naquela sala! É visível pela reação deles né? Ver que tantas pessoas, mesmo as que nunca me viram ou me conheceram, se alegrando é gratificante! Elas mandam mensagem e eu fico feliz demais respondendo com cada uma!”, comenta.
A estudante também apontou que recebeu críticas de pessoas que afirmaram que ela é rica e que não deveria estar em uma faculdade pública.
“Muitas pessoas também tem criticado demais, afirmando que eu sou rica, que eu não merecia, que não deveria estar na faculdade pública etc, mas essas pessoas não sabem da minha realidade. Elas não sabem que sou filha de uma professora da prefeitura e de um vendedor autônomo. Não vim de “berço de ouro” como diz o ditado. E mesmo que tivesse vindo, a universidade pública é pra todos!”, completa.
Relação com os amigos
A cena que chamou a atenção dos internautas pela reação dos amigos da estudante é justificada pela forte reação de amizade da jovem com os colegas. Segundo ela, o grupo anda sempre junto e se ajuda em todos os momentos da vida escolar. Ela diz que vai continuar unida a todos eles e torcer pelas próximas aprovações dos colegas.
“Nós temos um grupo no WhatsApp! Somos próximos demais! Falo quase todo dia com eles e a gente sempre tenta se ajudar da forma que dá. Eles sempre perguntam como está a faculdade e me dão muito suporte emocional, eu incentivo os estudos deles, me disponibilizo pra ajudar com as questões, etc. Somos muito unidos e eu estou ansiando pela aprovação deles!! Vamos fazer mais vídeos de aprovações, se Deus quiser!”, projeta
Escolha da Medicina
Ao falar sobre a escolha da profissão, a estudante afirma sentir que sempre teve vocação para a carreira e que desde a infância gostava de brincar de médica.
“Escolhi Medicina por acreditar que é minha vocação! É engraçado lembrar disso, mas na minha infância, por volta dos 5 anos, quando minha mãe saía pra trabalhar, eu ficava com meus avós e sempre brincava com meu avô de obstetra (eu era a médica obstetra e ele era a mulher grávida, porque ele tinha/tem uma barriga bem grande)”, recorda.
Entenda o que é o TDAH
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurobiológico, reconhecido oficialmente pela Organização Mundial da Saúde. Ele surge na infância, e suas causas são genéticas.
Em nível global, estima-se que o problema atinja entre 3% e 5% das crianças, sendo mais frequente em meninos, os quais costumam ter maior hiperatividade infantil do que as meninas.
Quem tem TDAH apresenta uma disfunção na região pré-frontal do cérebro, área que controla os impulsos, inibe comportamentos considerados inadequados e influencia a capacidade de planejar, de organizar, de prestar atenção e até de memorizar.