Caso Lutador

Laudo aponta “traumatismo crânioencefálico” na morte de lutador em Jeri

À reportagem, familiares ouvidos pelo GCMais disseram que quando souberam da decisão do jovem em competir, todos foram contra.

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13 de outubro de 2023
Patrícia Calderón

A reportagem falou com Lilia Maria da Penha, de 24 anos, irmã do jovem lutador de 23 anos que morreu após sofrer um nocaute durante um evento amador de luta em Jericoacoara, no Ceará. João Victor Penha, de 23 anos, foi atingido com um soco na região da cabeça e sofreu um traumatismo crânioencefálico, de acordo com o laudo do Instituto Médico Legal entregue à família.

Laudo aponta “traumatismo crânioencefálico” na morte de lutador em Jeri

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento do combate ocorrido no último dia 07. João foi enterrado na última quinta-feira, 12, no município de Bela Cruz, após ter ficado 05 dias internado em estado grave na Santa Casa de Sobral, município distante 3 horas do local onde tudo aconteceu.

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Jovem lutador sofreu lesão grave cerebral

Em entrevista a jornalista Patrícia Calderón, o neurocirurgião Cláudio Henrique Moreira, da Santa Casa de Sobral, onde o jovem ficou internado, explica que o movimento rápido, brusco e com estiramento da região cervical pode lesionar a artéria carótida – responsável pelo fluxo sanguíneo para o cérebro.

“O estiramento da região do pescoço, onde estão localizados vasos calibrosos importantes na comunicação com o cérebro, pode romper camadas destas artérias, levando a obstrução do fluxo sanguíneo. A partir daí o sangue não consegue seguir o fluxo normal para a área cerebral, resultando em um acidente vascular cerebral isquêmico. Nestes casos, os jovens são as vítimas mais frequentes devido à prática de atividades esportivas de risco”, diz Cláudio Henrique Moreira.

À reportagem, familiares ouvidos pelo GCMais disseram que quando souberam da decisão do jovem em competir, todos foram contra. Lilia, a irmã do jovem lutador, disse que a mãe deles pressentiu que algo mais grave poderia ocorrer, já que o evento não apresentou uma organização adequada.

“Essas lutas são um total absurdo. Não sei nem o que dizer, principalmente depois da tragédia com o meu irmão. Nós não queríamos que ele participasse. Todos nós ficamos com o coração na mão, minha mãe super protetora pediu pra ele não participar por achar perigoso. Falamos e ele pediu apoio da gente, aí não tivemos escolha. No perfil da organização tinha a frase: “Vem lutar sem perder a amizade” por mais que seja uma frase simples, não concordávamos. Não tinham preparo nenhum. O organizador do evento ligava para as academias, convidando os alunos para participar do evento. Colocava o nome e pronto. Pra quem ganhasse a luta era 100 reais, para quem perdesse 50 reais. A vida do meu irmão se foi por este valor, infelizmente”, desabafou a auxiliar de recursos humanos

Quem era João Victor, lutador morto em Jeri?

Fanático pelo Flamengo, sonho em ser pai, construir a casa própria, e loucamente apaixonado pela sobrinha de 3 anos. É assim que familiares descrevem o jovem cheio de sonhos. “Estava super ansioso para terminar a construção da casa dele, e infelizmente não terminou. Tinha comprado uma motinha, Pagando com o próprio suor, quase terminando de pagar. Meu irmão tinha um grande sonho de ser pai, ele era doido pela minha sobrinha de 3 anos, era afilhada dele, o amor da vida dele, a tinha como filha. Fanático pelo flamengo, estávamos nos organizando em família para assistir o jogo do flamengo em Fortaleza no mês que vem. Ele estava extremamente ansioso, e também não vai conseguir realizar este sonho”, conta a irmã emocionada.

Lilia ainda se diz indignada pela organização ter permitido que os participantes se enfrentassem sem preparo ou uma avaliação física pré solicitada. “Deveriam ter avaliado que ele não estava preparado pra isso, ele estava treinando há pouco tempo. Meu irmão treinava muay tay e foi lutar boxe neste evento. Totalmente sem equipamentos de proteção, nem inscrição teve. Não sei nem o que dizer, estou em choque. Minha família está devastada. Meus pais estão traumatizados, estamos sem norte”.

A reportagem falou com a organização do UFC-Jeri, idealizador do evento, que disse que a competição esportiva foi oficializada junto a prefeitura de Jijoca através de um oficio encaminhado ao ex-Secretário de Esportes, Marcio Marcelo Santos, e confirmado através de um áudio em troca de conversas por mensagens. Acrescenta, ainda, que solicitaram o apoio de uma ambulância e enfermeiros presentes no local. Ainda, segundo a organização, o campeonato foi todo dentro das regras do boxe, lutas “casadas” e combinadas com antecedência com os professores e alunos. Os atletas estavam devidamente equipados com luvas tamanho 14, consideradas luvas grandes, e de boa espessura para treinos, o que garantiria ainda mais a integridade do atleta, além do protetor bucal. Em questão da integridade física dos atletas, a nota diz, ainda, que foi reduzida a regra do round (de 3 para 2 minutos). No texto a observação que não valia soco na nuca, somente da cintura pra cima, regra do boxe. Tinham 2 árbitros de mesa, e um arbitro central.

Em nota, a prefeitura de Jijoca de Jericoacoara disse que o ex-Secretário de Esporte, Marcio Marcelo Santos, foi exonerado dia 02 de outubro, portanto não tinha mais autonomia em ter fornecido qualquer autorização em nome da prefeitura. Diz, ainda, que um processo administrativo será aberto para apuração dos fatos e das responsabilidades. A prefeitura reitera que só tomou conhecimento do evento depois da fatalidade, e que que nenhuma licença ou autorização prévia foram emitidas para a realização do evento, inclusive, alvará de funcionamento.

Em nota enviada à reportagem, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) afirma que investiga as circunstâncias da morte e que o caso está a cargo da Delegacia Municipal de Jijoca de Jericoacoara.

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