Há exatos 4 anos, no dia 15 de outubro de 2019, uma tragédia mexia com a vida da cidade de Fortaleza e de todo o Brasil. Eram exatamente 10h28 da manhã daquela terça-feira quando o Edifício Andrea, que ficava no encontro das ruas Tibúrcio Cavalcante e Tomás Acioly, no bairro Dionísio Torres, desabou, soterrando 16 pessoas. Nove delas morreram e outras 7 foram resgatadas com vida dos escombros, num momento que marcou a todos os cearenses, principalmente os familiares, amigos das vítimas, bombeiros e voluntários que trabalharam mais de cem horas no resgate.
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De lá para cá, as investigações sobre o ocorrido apontaram que, nos dias 14 e 15 de outubro daquele ano, quatro pilares do Edifício Andrea receberam intervenções simultâneas, sem a utilização de apoio ou escoras que pudessem auxiliar na redistribuição do peso da construção.
Os peritos concluíram que a queda da edificação aconteceu por diversos fatores, como a falta de manutenção adequada no prédio e aumento de carga não prevista no projeto. Mas estas condições teriam sido agravadas pela intervenção inadequada realizada pela empresa que trabalhava na obra.
O Ministério Público do Ceará (MPCE) defende que a tragédia poderia ter sido evitada se os profissionais tivessem atentado para as regras de segurança sobre as reformas em edificações.
“Os engenheiros civis José Andreson Gonzaga dos Santos e Carlos Alberto Loss de Oliveira e o pedreiro Amauri Pereira de Sousa assumiram o risco de produzir o dramático sinistro quando iniciaram a reparação deixando de escorar o vigamento principal e secundário da edificação, e não evacuaram o prédio, nem mesmo tentaram evacuar, após grande parte do cobrimento do pilar P12 ruir, assumiram o risco e deram causa a desabamento do Edifício Andrea, expuseram em perigo a vida, a integridade física e o patrimônio de todas pessoas que lá residiam e também daquelas que estavam nas imediações, concorrendo eficazmente para os resultados mortes consumadas e lesões físicas das pessoas antes nominadas, além dos prejuízos patrimoniais das inúmeras vítimas”, diz o texto da denúncia à época.
Julgamento dos réus
O acidente no Edifício Andrea abriu debates sobre a segurança das edificações, negligências e fiscalizações. Dois engenheiros civis – José Andreson Gonzaga dos Santos e Carlos Alberto Loss de Oliveira – e um pedreiro – Amauri Pereira de Souza – foram indiciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) ainda em 2021. No entanto, o julgamento não tem data para acontecer. Eles são apontados como responsáveis pela reforma do prédio, que teria começado 1 dia antes do desabamento.
Em fevereiro deste ano, seis testemunhas foram ouvidas, dentre elas duas vítimas. Em abril, outras seis testemunhas prestaram depoimento e, em junho, houve a oitiva de duas testemunhas e o interrogatório dos três réus. O processo, agora, aguarda decisão de pronúncia ou impronúncia, que define se os réus serão ou não levados a Júri Popular.
Renascimento
O estudante Davi Sampaio é um dos sobreviventes e não consegue esquecer os momentos de aflição após o desabamento. Ele enviou uma selfie aos familiares enquanto estava preso sob os escombros do prédio.
“A ideia de mandar uma foto no meio daquela situação toda foi justamente para avisar aos meus parentes, amigos e familiares que, apesar do acontecimento, eu estava bem, estava tecnicamente seguro, e que eles não precisavam se preocupar tanto pois tinham muitas pessoas trabalhando incansavelmente para me tirar dali o mais rápido possível, então foi mais um meio de informar e tranquilizar os meus amigos e parentes”, afirmou Davi Sampaio ao Grupo Cidade de Comunicação à época do desabamento.
Vítimas do desabamento
As 9 pessoas mortas não representam apenas números ou nomes. Foram histórias e sonhos interrompidos de forma abrupta, sem sequer ter a chance de uma despedida. Morreram no desabamento:
- Maria da Penha Bezerril Cavalcante
- Vicente de Paula Menezes
- Eriverton Laurentino Araújo
- Rosane Marques de Menezes
- Frederick Santana dos Santos
- Izaura Marques Menezes
- Antônio Gildásio Holanda Silveira
- Nayara Pinho Silveira
- Maria das Graças Rodrigues, síndica do prédio
Indenização
Após uma batalha judicial e depois de 4 anos, as famílias receberam uma indenização por conta da desapropriação do terreno onde o prédio estava situado. O valor foi de R$ 1,7 milhão, dividido entre 12 famílias.
Dois meses após o desabamento, ainda em 2019, o então prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, se comprometeu em realizar a desapropriação do terreno. A tomada da propriedade, porém, só pode acontecer se houver o pagamento prévio de indenização em dinheiro. A sentença foi promulgada somente em outubro de 2022, na gestão do atual prefeito José Sarto.
A quantia foi dividida igualmente entre 12 proprietários e uma quantia superior para o dono da cobertura. Desta forma, a maioria das vítimas recebeu cerca de R$ 134.594,00, e o proprietário da cobertura recebeu R$ 169.872,02.
Solidariedade
A tragédia, além de mexer com a vida da cidade, que estava atenta às informações sobre o resgate às vítimas, expôs 2 sentimentos: a solidariedade e a empatia dos fortalezenses. Dezenas de pessoas deixavam alimentos e água nas proximidades do local e ajudavam a controlar a entrada e saída de quem circulava. Além disso, um ponto de apoio com alimentos e água foi montado para os profissionais que ajudavam nas buscas.
A fisioterapeuta Ana Carolina Furtado viveu de perto o voluntariado durante o resgate às vítimas. Um ato de amor ao próximo.
“Chegando lá, eu presenciei aquela cena que parecia um cenário de guerra, nunca tinha vivenciado aquilo. Conforme foi passando o tempo, foram chegando mais profissionais e a gente montou uma equipe para prestar todo o apoio não só aos bombeiros, mas também a todos que estavam naquele trabalho de resgate, que é muito exaustivo. A gente tem uma missão na vida que é ajudar sempre o próximo. Eu fui como uma profissional da saúde mas não apenas isso, eu estava ali realmente de coração para ajudar o próximo”, finaliza Ana Carolina.
O resgate às vítimas durou 5 dias, com a ajuda de cães farejadores, sem interrupção, até que todas fossem retiradas dos escombros. A atuação do Corpo de Bombeiros rendeu diversas homenagens de órgãos políticos, clubes de futebol e das famílias das vítimas.
Do Edifício Andrea à Companhia 15 de Outubro
O terreno onde ficava o Edifício Andrea vai sediar uma unidade do Corpo de Bombeiros. As obras estão em execução e a Companhia 15 de Outubro terá uma área construída de 831 metros quadrados, dentro de uma área de 580 metros quadrados, dividida em três pavimentos e subsolo. O projeto inclui sistema de energia solar, cobertura verde, entre outros equipamentos. A estrutura vai permitir reforço operacional dos bombeiros na região dos bairros Aldeota, Dionísio Torres, Meireles, Varjota, Cocó, Guararapes, entre outros bairros adjacentes.
A construção da estrutura teve início no fim de setembro do ano passado, após autorização publicada no Diário Oficial do Estado, no dia 12 de setembro de 2022. Segundo previsto, o investimento é de R$ 2,9 milhões do Tesouro do Estado com prazo de 20 meses para execução, a partir da ordem de serviço.
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