A memória de uma cidade passa por edificações e construções históricas, mas a falta de conservação e a especulação imobiliária são alguns dos entraves para que essa lembrança seja preservada. Contudo, um recurso comum para garantir a preservação de um patrimônio é o tombamento.
Na primeira série de reportagens “Memória Concreta”, exibida no Jornal da Cidade desta semana, os prédios históricos localizados no Centro de Fortaleza são exemplo de como essa ação é importante para garantir a preservação e a perpetuação dessas edificações para as demais gerações.
Prédios do Centro de Fortaleza ganham novas funções após tombamento
Localizados no Centro de Fortaleza, prédios histórios tem ganhado, ao longo dos anos, novas funcões após passarem pelo processo de tombamento. Construída no final do século XIX, a Casa Barão de Camocim, instalada na Rua General Sampaio, no Centro da Capital, já foi considerada uma das mais luxuosas da época e teve seu tombamento efetuado em 2007, se transformando hoje em um centro cultural.
Para o historiador do patrimônio histórico-cultural, Vinícius Mesquita, o tombamento serve não somente para preservar, mas adequar o espaço à realidade do tempo contemporâneo e das pessoas que hoje habitam a cidade.
“A gente sabe que os usos do Centro não são mais os mesmo usos de antes, as nossas condições de morada não são mais as mesmas de antes. Por isso uma casa como essa precisa passar por uma adequação ao seu tempo. A função de uma casa como essa é de situar a historicidade da cidade no tempo”, explica.
Ainda passeando pela capital cearense, encontramos outro exemplo de prédio histórico tombado e aproveitado para novas utilizações, no caso, o Palácio do Bispo, também chamado de Palácio João Brígido, que foi construído na primeira metade do século XIX, servindo entre outras coisas, como sede da prefeitura de Fortaleza entre as décadas de 1970 e 1990.
Após vários anos abandonado, foi tombado em 2005, voltando a ser sede do poder executivo municipal em 2010 como parte do processo de revitalização do Centro da cidade.
O gerente de Educação Patrimonial, Ruben Oliveira, afirma que o local abriga telas que fazem parte do acervo que integram os órgãos da prefeitura de Fortaleza, que possam dialogar com quem faz a visitação do local.
“Vamos fazer articulação com a rede municipal de ensino para que alunos, além de aprenderem conteúdos sobre a colonização do estado do Ceará em sala de aula, possam aprender conteúdos aqui por meio de experiências, contatos , para que aquilo que eles só vêem nos livros possam ver aqui exemplificados por meio de telas além do próprio Rio Pajeú”, comenta.
Theatro José de Alencar: berço das artes cênicas e formador de artistas
Diferente dos prédios e casas que foram posteriormente transformados em centros culturais, outros patrimônios históricos do Centro de Fortaleza mantiveram sua finalidade original até os dias de hoje, a exemplo do Theatro José de Alencar.
O prédio, tombado pelo Iphan, é gerido pela Secretaria da Cultura do Estado. O TJA continua atuando como promotor das artes cênicas e formação de novos artistas. Com capacidade para 800 espectadores, o equipamento conta com arquitetura eclética e um jardim projetado pelo paisagista Burle Marx.
O tombamento de um edifício representa o reconhecimento de um valor histórico, cultural ou artístico em âmbito municipal, estadual ou federal. De acordo com a superintendente do Iphan/CE, Cristiane Buco, são analisados muitos critérios levando-se em consideração todas as questões culturais envolvidas.
Não basta apenas pensar no tombamento dos prédios históricos sem uma política de educação por parte da sociedade para usufruir desses espaços com foco na preservação deles.
“Só é possível a gente pensar as políticas de preservação quando atreladas a uma lógica de educação patrimonial. No sentido de a gente entender e se associar com esse equipamento como parte da nossa história, fala da nossa cidade e a partir disso é que a gente consegue entender a cidade como um todo”, esclarece o historiador Vinícius Mesquita.
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