As vacinas contra a dengue, desenvolvida pelo Instituto Butantan, e a que combaterá a chikungunya devem estar disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ainda em 2024 para todo o Brasil. A projeção é do médico infectologista Ivo Castelo Branco Coelho, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) que liderou os testes de ambos os imunizantes no Estado.
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No caso do imunizante contra a dengue, entre os mais de 16 mil voluntários testados no Brasil, 1.300 foram na UFC. A Universidade contou com um investimento anual de cerca de R$ 850 mil para a realização dos testes e para o acompanhamento dos voluntários.
“Ao longo de cinco anos de acompanhamento, a gente observou se as pessoas tinham tido efeitos colaterais, se tinham gerado anticorpos, se tinham contraído dengue ou outras doenças. Fazíamos visitas periódicas e registramos tudo, se elas tinham tido febre, dor de cabeça, qualquer coisa. Eles também podiam entrar em contato com a gente 24 horas por dia”, explica o professor.
Segundo ele, a fase III de acompanhamento está sendo concluída no Ceará. “Até março, terminaremos o último grupo, que é formado por crianças, que foram as últimas a entrarem nos testes”, informa Castelo Branco.
A vacina está em fase de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), etapa que, segundo o pesquisador, deve ser concluída em breve, devido à situação epidemiológica de aumento de casos das arboviroses. O professor assina um artigo científico publicado na semana passada no periódico internacional The New England Journal of Medicine, o qual confirma que a nova vacina do Butantan possui eficácia de 79,6%.
O estudo revela também que a eficácia da vacina foi avaliada se a exposição prévia ou não aos vírus da dengue poderia mostrar algum problema. Em pessoas que já haviam contraído a doença antes do estudo, a proteção foi de 89,2%. Já entre aquelas que nunca tiveram dengue, a eficácia foi de 73,5%. Não foi observado nenhum caso grave ou com internação, nesse período.
“Essa vacina tem diversas vantagens diante das já existentes. Primeiro, porque ela é de dose única. E garante uma imunidade de cerca de oitenta por cento. Além disso, ela é duradoura, até agora, com um acompanhamento de cinco anos. E mais: ela mostrou pouquíssimos efeitos colaterais”, comemora o pesquisador.
Vacinas contra dengue e chikungunya
Além da vacina da dengue, estão na fase III os estudos da vacina contra a chikungunya, também transmitida pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti. A vacina está sendo desenvolvida em uma parceria entre o Instituto Butantan e a empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva. A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, já aprovou, em novembro do ano passado, a aplicação do imunizante para pessoas maiores de 18 anos. Essa aprovação deve acelerar decisão semelhante por parte da ANVISA, no Brasil, onde a vacina está em análise.
Nos Estados Unidos, a vacina foi testada em adultos. No Brasil, os testes foram em adolescentes de 12 a 17 anos que residem em áreas endêmicas nas cidades de Fortaleza (CE), São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR).
A UFC é um dos sete centros do País que estão realizando os testes. Ao todo, aproximadamente 760 voluntários no Brasil foram testados, sendo cerca de 150 deles testados no Núcleo de Medicina Tropical da UFC. Nos EUA, os ensaios de dose única apresentaram uma eficácia da vacina de 98,9% contra a doença nos participantes, tendo se mostrado segura. Os resultados no Brasil serão, em breve, divulgados em artigo científico a ser publicado na revista internacional The Lancet.
“É uma vacina muito boa, que tem tido pouquíssimos efeitos colaterais. E, provavelmente, como já foi liberado pela FDA americana, e a vacina é a mesma, é possível que o Ministério da Saúde consiga liberar. E o Butantan já tem como fabricar”, avalia o Prof. Ivo Castelo Branco.
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