A série “Histórias de Liberdade” é exibida, às 19h15, dentro do Jornal da Cidade
A resistência dos quilombos cearenses que lutam para preservar a memória dos antepassados
Celebrada no dia 25 de março, a Data Magna do Ceará foi instituída pelo Estado em alusão à libertação dos escravizados em 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea, de Princesa Isabel, que ocorreu em 13 de maio de 1888. Mas antes da conquista da liberdade, houve muita resistência e luta. Nesta semana, o Jornal da Cidade vai exibir a série “Histórias de Liberdade” para mostrar como essa conquista aconteceu ao longo de muitos anos.
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Redenção é conhecido por ser o o primeiro município cearense a libertar os escravos. A cidade conserva cenários que ajudam a recontar o período escravista no Ceará, com o Museu Senzala Negro Liberto. O casarão e todo o conjunto arquitetônico colonial está preservado. Quem frequenta o local é capaz de sentir a atmosfera em que viveram os escravos na então Vila do Acarape.
Na senzala, o descanso dos escravizados acontecia em condições insalubres. No chão, em cômodos úmidos com morcegos aqueles que ousavam contrariar os senhores, restavam os castigos.
“Em cada canto da senzala tem punições diferentes. Temos os troncos onde eles eram chicoteados, a solitária caso alguém tentasse fugir, temos a cela de castigo onde eles eram presos de cócoras, passando a noite toda, sendo liberado só pela manhã para voltar ao trabalho”, explica Jonas Souza, guia turístico do museu.
Com a seca de 1877, senhores de engenho sofriam os efeitos da crise financeira com a devastação de plantações. Movimentos abolicionistas ofereceram ajuda financeira aos donos de escravos em troca para libertá-los. Abolicionista, o imperador Dom Pedro Segundo também contribuiu com envio de dinheiro. Aa partir de primeiro de janeiro de 1883, ficou estabelecido que não haveria mais nenhum escravo em Vila do Acarape, cinco anos antes da Lei Áurea, assinada por Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888.
A resistência dos quilombos cearenses na luta pela preservação da memória
Uma vez em liberdade, escravos se organizaram para formar comunidades, onde desenvolveram meios que garantissem a sobrevivência e a reprodução de crenças e costumes do continente africano. Tratam-se dos quilombos. No Ceará, são 70 comunidades em 19 municípios. Lugares de ancestralidade e também de resistência.
“Ele é um escravo que fugiu de um navio negreiro que embargou na Barra do Ceará e se refugiou para esta comunidade, onde ele veio e construiu famílias. Hoje nós temos os nossos direitos porque ele construiu essa luta”, esclarece Valdiglécia Silva, que é filha do quilombo Alto Alegre, em Horizonte, na Grande Fortaleza. Ela é descendente do escravo negro Cazuza, que fundou a comunidade.
O Centro Cultural Negro Cazuza faz um convite para conhecer mais sobre a formação do quilombo. Como a reprodução de uma casa de taipa, tipo de residência onde viviam os moradores ancestrais. Pinturas em tela e quadros bordados feitos pela comunidade também contam a história do lugar e da luta dos escravos pela liberdade. A formação de moradores, pela consciência da garantia de direitos e combate às desigualdades, é atividade permanente e desde cedo.
“O projeto se chama Saberes Quilombolas com Cazuzinha, que é um personagem que foi criado a partir de nosso ancestral Cazuza e traz a história da comunidade de uma maneira que as crianças possam entender e interagir e é um projeto que conta com a presença dos mais velhos que compartilham as brincadeiras, como eram os estudos de antigamente”, afirma a pedagoga Tatiana Ramalho.
“Para muitos só vai ter essa lembrança no dia 25 de março, mas essa lembrança está viva todos os dias entre nós. Eles foram acorrentados, mortos, e isso dóis porque são vidas, me emociono porque é algo que foi muito maldoso e que marca, não só por causa da minha ancestralidade”, complementa Valdiglécia Silva.
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