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Dragão do Mar: a voz da liberdade que liderou o movimento contra o transporte de escravos

Dragão do Mar: a voz da liberdade que liderou o movimento contra o transporte de escravos

Foto: Reprodução

Na segunda reportagem da série “Histórias de Liberdade” o destaque é para Francisco José do Nascimento, que ficou conhecido como Dragão do Mar, um dos responsáveis pela luta contra a escravidão no Estado do Ceará. Por muitos anos o transporte de escravos entre províncias brasileiras, como Fortaleza, era realizado em navios negreiros, atracados em portos que também utilizavam mão de obra escrava.

“Naquela época a infraestrutura do porto era muito precária. Não é como hoje em dia que existe maquinário, tecnologia. Naquela época quem fazia o carregamento das mercadorias eram escravos e quem fazia o embarque e desembarque deles eram os jangadeiros”, explica o historiador Licínio Miranda.

Com a seca de 1877, a economia do Ceará entrou em declínio. Fazendeiros venderam escravos para os cafezais do sudeste do país, o que aumentou o fluxo no porto da capital. Foi neste cenário que surgiu a indignação do jangadeiro aracatiense Francisco José do Nascimento, o “Chico da Matilde” ou, “Dragão do Mar”.

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Aos 20 anos, “Dragão do Mar” se mudou para Fortaleza e trabalhou na construção do antigo porto, localizado na região da comunidade Poço da Draga. Depois, trabalhou como marinheiro e prático-mor da Capitania dos Portos, responsável por conduzir navios até a atracação, mas em 1881, ele foi convocado a liderar um movimento grevista que mudou a história do tráfico negreiro no Ceará.

“Quando os abolicionistas da Sociedade Libertadora Cearense descobriram que iria ocorrer um novo embarque de escravos no dia 30 de agosto de 1871 eles decidiram fazer a quarta greve portuária para impedir o embarque e entraram em contato com Napoleão, que era um ex-escravizado que havia liderado as três primeiras greves só que Napoleão era uma pessoa de mais idade e sugeriu o nome do Chico da Matilde, que era apelo do Francisco José do Nascimento que era então funcionário do porto e que viria mais tarde ser o Dragão do Mar, ele era abolicionista, participou das três primeiras greves. Ele era a pessoa ideal pois tinha tanta influência, senão mais que o próprio Napoleão frente aos operários do porto e junto com os jangadeiros”, esclarece Licínio Miranda.

O historiador afirma ainda que a mobilização liderada por “Dragão do Mar” se tornou exemplo de ativismo social no Ceará. “Até então a movimentação era mais em termo de rebeldia, mas pela primeira vez aconteceu uma greve com o objetivo de salvar vidas. Então Dragão do Mar conseguiu convencer os profissionais do porto a cruzarem os braços mais uma vez”, explica.

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Como pesquisar a história de Dragão do Mar

A história de “Dragão do Mar” e dos fatos relacionados à escravidão no ceará podem ser consultados no acervo disponibilizado na Biblioteca Pública Estadual, em Fortaleza. “Nós temos o setor de obras raras, periódicos, coleção Ceará e esses periódicos podem ajudar ao pesquisador a melhor compreender esse período, que vai trazer uma maior amplidão no conhecimento”, afirma a coordenadora do acerto da biblioteca, Karine Garcia.

O historiador Licínio Miranda se dedica à pesquisa sobre a abolição da escravidão no Ceará. Em 2020, ele fez uma descoberta que gerou grande repercussão: o jazigo de “Dragão do Mar”, até então despercebido entre os 15 mil túmulos do Cemitério São João Batista, no Centro da Capital.

“Durante a pandemia aproveitei para fazer uma pesquisa de campo nos cemitérios. Começou a percorrer o cemitério, mais de dez mil túmulos até que me deparei com o túmulo do Dragão do Mar. “O valor histórico é tremendo porque é uma figura que mudou a história da sociedade cearense, sem o Dragão do Mar a abolição da escravidão teria demorado muito mais tempo não só no Ceará, mas no Brasil”, diz.

“Dragão do Mar” morreu em 5 de março de 1914, aos 75 anos, como primeiro-tenente honorário da Armada e e eternizou como referência de coragem e liberdade, uma inspiração para quem faz do mar a segunda casa.

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