História política de Fortaleza: o legado dos ex-prefeitos da quarta maior cidade do Brasil

Em outubro deste ano, Fortaleza terá a 15ª eleição para prefeito desde 1947, quando houve a primeira escolha realizada pelo voto direto após a criação da Justiça Eleitoral, em 1932. De lá para cá, a cidade elegeu onze diferentes gestores: nove homens e duas mulheres. Na recente história política de Fortaleza, após a Constituição de 1988, foi instituída a possibilidade de segundo turno, caso nenhum candidato obtenha maioria absoluta de votos (50% mais um dos votos válidos).

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Desde então houve oito eleições. Três foram decididas no primeiro turno: 1992, 1996 e 2008. Nas outras cinco houve segundo turno: 2000, 2004, 2012, 2016 e 2020. Entre 1963 e 1984, durante a ditadura militar, não houve eleição para prefeitos de capitais.

História Política de Fortaleza (1985 – 2024)

Maria Luiza Fontenele

No ano de 1985, que marca o processo de redemocratização do Brasil, a professora universitária Maria Luiza Fontenele foi a primeira mulher eleita prefeita de Fortaleza. No entanto, a gestão foi marcada por crises como a do lixo nas ruas. Atualmente, ela é militante política e defende um modelo de organização que nega o capitalismo.

O cientista político Cleyton Monte relembra o contexto político de Fortaleza em 1985, quando Maria Luiza derrotou o candidato Paes de Andrade, do então PMDB, além de Lúcio Alcântara, do PSDB.

“A eleição de Maria Luíza Fontenelle representou, pela primeira vez no Brasil, a vitória de uma frente, de uma força explicitamente de esquerda, oriunda dos movimentos sociais, dos movimentos feministas, na onda da redemocratização, crítica dos políticos tradicionais. A Maria Luíza ganha a eleição dos candidatos dos coronéis. Isso ficou muito emblemático. A primeira mulher de esquerda prefeita de uma grande cidade. Então essas foram as grandes marcas e com uma pauta abertamente de direitos sociais, de igualdade, de crítica aos poderes estabelecidos”, explicou Cleyton.

Ciro Gomes

Anos depois, em 1988, foi a vez de Ciro Gomes, que protagonizou a eleição mais apertada em Fortaleza, quando venceu Edson Silva por pouco mais de 5 mil votos de vantagem. A candidatura de Ciro recebeu o apoio do então governador Tasso Jereissati (PSDB), iniciando uma parceira que durou quase duas décadas. O hoje pedetista ficou no poder por apenas 15 meses, e deixou o cargo para ser candidato a governador do Ceará.

“O governo de Maria Luísa não foi bem sucedido, principalmente na última parte, por vários motivos. Um deles, Maria Luísa teve fortes conflitos com o governador Tasso Jereissati, o que abriu espaço, claro, para a eleição de Ciro Gomes, uma liderança emergente do interior do estado, que trazia a marca da modernização dos empresários da geração Cambeba, o apoio do Tasso, que tinha sido eleito em 1986. Então a eleição dele traz para Fortaleza liderança jovem, líder do governo na Assembleia, ele consegue se eleger com uma margem muito apertada diante do radialista Edson Silva, mas ele se elege com essa marca de modernização administrativa”, avalia o cientista político Cleyton Monte.

Entre as realizações estavam limpeza de ruas, buracos tapados, reabertura de postos de saúde, recuperação de escolas e regularização dos salários do funcionalismo.

Porém, Ciro Gomes ficou pouco tempo à frente da gestão municipal. Em 1990, ele se candidatou ao governo do Ceará, apoiado por Tasso. Naquela época não havia reeleição para cargos no Executivo.

Juraci Magalhães

Eleito vice-prefeito na chapa de Ciro Gomes, em 1988, Juraci Magalhães assumiu a Prefeitura em 1990 e deu início a uma era de transformações em Fortaleza nas áreas da política, da gestão e da paisagem urbana, como relembra Cleyton Monte.

“O Juraci passou a ter o seu próprio voo, a fazer o seu próprio grupo político. Ele passou a ganhar espaço dentro do MDB, que até então tinha a força e o domínio do Paes de Andrade, então o Juraci faz uma segunda parte de administração, de gestão, muito voltada para as obras, para a construção de conjuntos habitacionais, para os terminais de ônibus. Consegue eleger o Cambraia, o seu secretário, e de certa forma começa o poderio do Juraci Magalhães que dura em torno de 15 anos”, afirmou.

Juraci deixou como legado obras que fazem parte do cotidiano dos fortalezenses: os terminais de ônibus, a Via Expressa, a Avenida Raul Barbosa, os terminais de ônibus, além do sistema de Frotinhas e Gonzaguinhas e da divisão da Capital em regionais.

Antônio Cambraia

O secretário de Finanças do governo Juraci, Antônio Cambraia, foi o escolhido para sucedê-lo em 1992, derrotando Assis Machado e Lúcio Alcântara.

O historiador Waldejares Oliveira faz um recorte histórico da gestão Cambraia, entre 1993 e 1996. Ao longo do mandato, manteve o índice de aprovação acima de 80%.

“O detalhe é que Cambraia não tinha aquele mesmo apoio do partido do PMDB, o maior partido do país, o partido com mais deputados federais. Não havia para Cambraia tanta força de bastidor como havia para Juraci Magalhães. Cambraia não era a ‘raposa política’ que Juraci havia sido. Portanto o que podemos imaginar é que, naquele contexto, Cambraia até que tentou ser uma novidade na política mas o fato é que não conseguiu. Então em 1996 Juraci volta à prefeitura e fica por mais oito anos. Juraci é o primeiro prefeito de Fortaleza a ser reeleito. É o primeiro a ser contemplado com a emenda constitucional da reeleição que havia sido criada em 1997 no governo de Fernando Henrique Cardoso”, afirma o professor.

Retorno de Juraci Magalhães

Em 1997, Juraci Magalhães chegou novamente ao Paço Municipal, sendo reeleito em 2000 e deixando o Executivo somente em 2004. Foi o prefeito que governou Fortaleza por mais tempo. Segundo o cientista político Cleyton Monte, a gestão ficou marcada como a “Era Juraci”, onde muitas obras foram feitas, seguidas de polêmica.

“O desgaste da era Juraci começa no início dos anos 2000, já por denúncias de corrupção, por desgaste na administração, você tem um certo cansaço da gestão, que já não consegue responder às demandas da cidade. É nesse sentido que surge, com expressividade, a figura de Luizianne Lins. Ela representa uma mulher que luta contra o próprio partido, que luta contra candidatos já estabelecidos. E Fortaleza gosta muito dessa marca do candidato ou da candidatura desbravadora, que representa um contraponto. Então, de certa forma, você tem a Luizianne ganhando a eleição de uma forma meteórica em 2004, se relegando em 2008”, lembrou Monte.

Luizianne Lins

Luizianne Lins foi a segunda mulher a conseguir chegar ao Paço Municipal, depois de Maria Luiza Fontenele. Governou a cidade por 2 mandatos, marcados pelo slogan “Fortaleza Bela”, como relembra o professor Waldejares Oliveira.

“Luizianne e o PT mobilizaram os eleitores, fizeram uma campanha pautada fundamentalmente na ideia de que o PT do Lula é o PT de Luizianne, mesmo que isso não fosse uma verdade na prática política, mas isso deu certo. Luizianne foi eleita pela estrela do PT e o partido hegemônico nacional só vai entrar na campanha dela de verdade no segundo turno. E Luizianne ganha a Prefeitura contra tudo e contra todos, inclusive contra a indicação do seu próprio partido na época, o Partido dos Trabalhadores, o PT. A eleição de Luizianne Lins em 2004 é uma mudança significativa nos rumores da administração pública aqui na cidade de Fortaleza”, avalia o historiador.

A petista teve como destaques da primeira gestão a redução das mortalidades infantil e materna e a ampliação dos programas federais como Saúde da Família e Bolsa Família. Outras prioridades por meio da “Fortaleza Bela” foram a limpeza de canais, rios, riachos e lagoas próximos à áreas habitadas em situação de risco e a construção de casas populares.

Luizianne Lins foi sucedida por Roberto Cláudio na Prefeitura de Fortaleza em janeiro de 2013.

Roberto Cláudio

No fim de 2012, o então governador do Ceará, Cid Gomes, escolheu Roberto Cláudio como postulante à Prefeitura. Luizianne Lins indicou o secretário de educação do município, à época, Elmano de Freitas, atual governador do estado. Roberto Cláudio foi eleito e reeleito em 2016. Na avaliação de Waldejares Oliveira, o principal legado são as ações de mobilidade urbana, mas o futuro político do ex-prefeito ainda é uma incógnita.

“Roberto, ao longo de seus oito anos de administração, sempre deixou clara a sua ligação política com os Ferreira Gomes. Esse nomadismo político de sair do PSB, por exemplo, para o PROS, do PROS para o PDT, essas mudanças sempre foram acompanhadas por Roberto Cláudio. Ele foi presidente da Assembleia Legislativa em 2012, assim como José Sarto presidiu a Casa. Roberto deixou a Prefeitura depois de oito anos de administração, e foi bem avaliado pela população. O que se tem para Roberto Cláudio no futuro é incógnita. Senador, governador, deputado federal, o seu grupo político decide em âmbito muito restrito”, declarou.

José Sarto

José Sarto Nogueira assumiu o mandato em 2021 com compromissos em três áreas centrais: obras públicas, educação e saúde, tendo ainda liderado o enfrentamento à pandemia de Covid-19, iniciada em 2020, ainda na gestão do antecessor Roberto Cláudio.

Em discurso na reabertura dos trabalhos da Câmara Municipal de Fortaleza, no mês passado, Sarto informou que 29 novos centros de educação infantil já foram entregues na gestão, além da execução de um pacote de investimentos na Atenção Básica, com a entrega de novos postos de saúde.

Foi inaugurado o Cuca Pici e está sendo construído um novo Cuca no Grande Mucuripe. De acordo com o prefeito, desde que foi iniciado o Passe Livre Estudantil, mais de 3 milhões de passagens gratuitas já foram concedidas.

A capital também realiza atualmente o programa de regularização fundiária, o Reurbfor. Já foram entregues mais de 2.800 papéis da casa, preferencialmente em nome da mulher da família.

O Município nomeou mais de 2.500 novos servidores aprovados em concursos, além de outros certames em andamento.

Em meio à iminente candidatura à reeleição em 2024, o prefeito deve olhar para a situação interna do PDT, seu partido. Após o rompimento com o PT em 2022, a legenda a qual está filiado encontra-se rachado. Boa parte apoia a gestão do governador Elmano de Freitas, ocupando cargos como secretarias e liderança do governo na Assembleia.

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