Além da luta do abolicionista Dragão do Mar e dos negros que lutaram pela própria liberdade, outros personagens também ajudaram nessa conquista, como políticos e outros pensadores foram fundamentais para a libertação dos escravizados no Ceará. É sobre essas personalidades que trata a terceira e última reportagem da série do Jornal da Cidade, Histórias de Liberdade.
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E foi na segunda metade do século 19 que o movimento abolicionista ganhou força no Ceará. A chamada ‘Sociedade Cearense Libertadora’ foi um dos grupos que defenderam o fim da escravidão no Estado, mas a campanha era conduzida por integrantes da elite urbana, como João Cordeiro. O empresário e político fundou o ‘Jornal Libertador’, veículo que difundiu o ideal da abolição.
“O Libertador vai ter um papel importante, ele vai criar a Sociedade Libertadora Cearense e ele também vai criar o Jornal Libertador. O Jornal Libertador, criado em maio de. 1881, 1880, ele vai ser o principal. Veículo de combate à escravidão no Ceará, explica o professor de História, Francisco José Pinheiro.
Personagens que contribuíram para a libertação dos escravos no Ceará
Além de João Cordeiro, outros políticos também se empenharam em propor leis que beneficiassem escravos, como por exemplo, o deputado Pedro Pereira que propôs a Lei do Ventre Livre.
“Ele foi inclusive foi procurador dos escravizados no Ceará. E ele vai propor, por exemplo, a Lei do ventre livre praticamente 20 anos antes da proposta feita a nível nacional. Ele vai propor, por exemplo, que você não pode separar as famílias. Isso na década de 1950, porque antes você poderia vender uma família e você ia mandar o filho para um lado, a mulher para outro, o marido para outro, certo? E esse processo só voltou a ocorrer no Brasil em 1869 e o Pedro Pereira está propondo aqui no Ceará já em 1850”, esclarece o professor.
A província do Ceará foi a primeira do país a romper o acordo, estabelecido pela elite brasileira, de não discutir meios que permitissem a abolição dos escravos após 1850, ano marcado pelo fim do tráfico internacional de escravos no país. A mobilização social pelo fim da escravidão resultou em uma grande cerimônia realizada na antiga praça Senador Castro Carreira, que hoje, é chamada Praça da Estação, no Centro de Fortaleza.
Em 25 de março de 1884, exatamente ao meio-dia, autoridades políticas, militares, religiosas e sociedade civil participaram da sessão magna, que decretou a libertação dos escravos no Ceará. O momento está descrito no livro de prata e pode ser conferido no anexo do Museu do Ceará, na Praça do Ferreira//
“Este livro foi uma homenagem de portugueses que residiam em Fortaleza e que cederam em forma de homenagem um livro totalmente de prata e com folhas também folheadas a prata e que hoje esse livro pertence ao acervo do Museu do Ceará, que atualmente está no anexo Bode Iô Iô. O livro traz um relato de como, onde e quem foram as pessoas que participaram dessa cerimônia do dia 25 de março de 1884”, explica o historiador Weber Porfírio.
Porfírio afirma ainda que o museu ele guarda os objetos não só para que as pessoas fiquem enaltecendo ou glamourizando o passado, mas para pensar sobre o presente, para que todos reflitam sobre o nosso presente.
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