ELEIÇÕES NA VENEZUELA

Em Brasília, venezuelanos manifestam desejo de mudança com eleições

O Brasil tem hoje 1.059 venezuelanos aptos a votar, mas existem cerca de 500 mil venezuelanos que moram no país

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28 de julho de 2024
Portal GCMAIS

Manuel Quilarque é jornalista e viajou de São Paulo para Brasília para votar nas eleições que vão escolher o próximo presidente da Venezuela, que governará o país sul-americano entre os anos de 2025 e 2031. Além dele, outros eleitores também marcaram presença e estiveram na seção eleitoral na Embaixada da Venezuela, na capital do Brasil, neste domingo (28). Cada eleitor manifestou o seu desejo de mudança e pediram que o resultado das urnas seja respeitado pelas autoridades.

Em Brasília, venezuelanos manifestam desejo de mudança com eleições
Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil

“Estamos muito esperançosos para poder recuperar a liberdade no nosso país, que a gente consiga finalmente ter um processo de reinstitucionalização. E também que as pessoas que estão fora da Venezuela, em situação de vulnerabilidade, que estão passando por muita dificuldade, consigam, enfim, voltar para o país em condições favoráveis”, disse.

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Brasília (DF) 28/07/2024 – Manuel Quilarque na entrada da embaixada da Venezuela durante votação para presidente. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Manuel Quilarque na entrada da embaixada da Venezuela durante votação para presidente – Valter Campanato/Agência Brasil

Nicolás Maduro, atual presidente da Venezuela, já está no poder desde 2013, ou seja, há 11 anos e enfrenta nove concorrentes no pleito de hoje. Pela primeira vez, desde 2015, as eleições tem toda a oposição participando. É que desde 2017, os principais partidos de oposição vinham boicotando as eleições nacionais.

E o jornalista Manuel Quilarque, que vive no Brasil há 15 anos, é um dos cerca de 500 mil venezuelanos que moram no país, mas apenas 1.059 conseguiram registro para votar. Ele conta que tem o registro ativo há muitos anos, e que não teve dificuldades para votar. Ao contrário dele, seu irmão, que vive na Espanha, não conseguiu se registrar para participar do pleito.

Quilarque confia no sistema eleitoral, mas ressalta que existem outras questões que afetam o pleito como um todo.

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“Essa fraude não vem no sistema eleitoral, não vem na urna eletrônica, não vem na contagem, ela vem antes. Ela vem quando não te deixam inscrever, quando não te deixam votar por algum motivo, quando os funcionários públicos estão obrigados a tirar foto e mandar, quando tem um voto assistido”, disse o jornalista que aposta na vitória do principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.

As pesquisas eleitorais da Venezuela divergem sobre o resultado do pleito presidencial. Enquanto algumas enquetes dão a vitória com ampla margem a Edmundo González Urrutia, outros levantamentos apontam para uma vitória do atual presidente Nicolás Maduro, também com uma margem confortável.

Dificuldades

Em 2019, o presidente Jair Bolsonaro rompeu relações com o governo venezuelano e todos os consulados no Brasil foram fechados, restando seção eleitoral apenas na embaixada em Brasília o que dificultou o acesso da população venezuelana que mora no país a exercer seu voto nas eleições. Além  disso, os entraves burocráticos, questões logísticas e financeiras também dificultam a participação no pleito.

“Devem ter votado, no máximo, umas 30 pessoas”, estima Quilarque. “Porque se você morar, por exemplo, em Manaus, em Boa Vista, são lugares muito distantes, são pessoas que já estão numa condição de vulnerabilidade e pegar um avião para vir para cá tem um custo”, disse o jornalista.

Na embaixada venezuelana, em Brasília, foi fixado um painel no lado de fora, que contabilizava os 1.059 eleitores aptos a votar no país.

Votação que aconteceu não só no Brasil como em outros países do mundo, e os venezuelanos relataram dificuldades para votar no exterior. São quase 8 milhões de emigrantes do país, e metade têm idade para votar, mas poucos superaram os entraves burocráticos.

Paula Marcondes é advogada e foi uma das venezuelanas que não conseguiu fazer o registro para votação, mesmo assim ela foi à embaixada manifestar seu apoio à oposição do governo de Nicolás Maduro.

“A minha expectativa é que finalmente, depois de 24 anos, a gente consiga mudar alguma coisa para melhor”, disse ela, que tem duas filhas e apenas uma pode votar nas eleições.  “O que a gente espera é um resultado massivo que seja impossível de esconder”, acrescenta.

Brasília (DF) 28/07/2024 – Paula Marcondes na entrada da embaixada da Venezuela durante votação para presidente. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Paula Marcondes na entrada da embaixada da Venezuela durante votação para presidente – Valter Campanato/Agência Brasil

Quem também viajou de  de São Paulo para Brasília para votar foi a analista de sistemas Sônia Mejia. Ela mora no Brasil há 17 anos e trabalha com confeitaria. Seu desejo é que “a vontade de todos os venezuelanos” seja respeitada e que o país possa “sair de toda essa situação que está”.

“Que seja um resultado para progresso da Venezuela, uma Venezuela livre, próspera, abundante e que desabroche”, disse. “Eu queria fazer meu voto e fazer alguma coisa para mudar, porque eu acredito que, se a gente quer uma mudança no mundo, no país, em qualquer coisa, você tem que fazer algo. Então, eu queria exercer meu direito e votar, e aqui estou, já votei, estou feliz. E esperamos que tudo seja para o bem da Venezuela”, completou.

Brasília (DF) 28/07/2024 – Sônia Mejía na entrada da embaixada da Venezuela durante votação para presidente. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Sônia Mejía na entrada da embaixada da Venezuela durante votação para presidente – Valter Campanato/Agência Brasil

Economia

O país sul-americano enfrenta um bloqueio financeiro e comercial desde 2017, quando potências como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e União Europeia passaram a não reconhecer a legitimidade do governo Maduro. A Venezuela também passou por grave crise econômica nesse período, com hiperinflação e perda de cerca de 75% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país), o reflexo disso foi a migração de mais de 7 milhões de pessoas.

O país vem mostrando alguma recuperação econômica desde 2021. E com a hiperinflação controlada, a economia voltou a crescer em 2022 e 2023, mas os salários continuam baixos e os serviços públicos deteriorados.

Em 2022, o embargo econômico vem sendo parcialmente flexibilizado e um acordo entre oposição e governo foi firmado para as eleições deste ano. Porém, ainda assim, as denúncias de prisões de opositores nos últimos dias e recusas a assinar acordo para respeitar o resultado eleitoral por alguns candidatos da oposição, entre eles, o favorito Edmundo González, jogam dúvidas sobre o dia após a votação.

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