ESTIAGEM

Comunidades do Ceará ainda dependem de carro-pipa para abastecimento

Programa Operação Carro-Pipa atende comunidades do semiárido nordestino em situação de emergência por causa da seca

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14 de abril de 2025
Portal GCMAIS

Na pequena comunidade de Serrote Branco, localizada na zona rural de Quixadá, no Sertão Central do Ceará, a vida é medida em baldes. É deles que sai a água para lavar a louça, preparar a comida, dar de beber aos animais e tentar manter a dignidade em meio à escassez. Na casa de dona Célia Germano, a água encanada é um luxo distante. É da cisterna que ela retira o mínimo necessário para enfrentar o dia. Os moradores da comunidade são abastecidos por carro-pipa.

Comunidades do Ceará ainda dependem de carro-pipa para abastecimento
Foto: Reprodução

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“Todo dia pode ser aqui, pode ser na pia. É aqui mesmo. Tem que lavar as vasilhas e pegar lenho no mato pra botar no fogo”, conta, enquanto equilibra um balde cheio de água sobre o chão batido do quintal.

Célia é uma das dezenas de moradoras de Serrote Branco que dependem do Programa Operação Carro-Pipa, criado em 2012 pelo Governo Federal para abastecer comunidades do semiárido nordestino em situação de emergência por causa da seca. Segundo a Defesa Civil de Quixadá, cerca de 90% da população rural do município vive sem acesso regular à água potável, dependendo exclusivamente dos caminhões-pipa.

“O caminhão-pipa é como uma adutora móvel. Se não tem água, se não tem poço, se não tem açude, essa água tem que vir de algum lugar. E vem através dos carros-pipa”, explica Júnior Mourão, coordenador da Defesa Civil de Quixadá. “Sem eles, essa água jamais chega às famílias.”

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De 2023 a 2024, mais de 500 municípios foram atendidos pelo programa, segundo o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. Atualmente, a operação abastece cerca de 34 mil cisternas coletivas, beneficiando mais de 1,5 milhão de pessoas todos os meses.

Mas o que é vital para uns, muitas vezes não recebe a prioridade devida. Em março deste ano, o programa foi suspenso em diversas localidades devido a problemas orçamentários e atrasos nos repasses ao Exército Brasileiro, responsável pela execução. Em fevereiro, pipeiros protestaram exigindo o pagamento de salários atrasados desde o ano anterior.

“Quando passa um carro-pipa por aqui, não significa só água. Significa vida”, desabafa Cleilton Nunes, líder comunitário em Serrote Branco. “Esses trabalhadores precisam de atenção e apoio. Sem eles, nossa vida para.”

A situação em Serrote Branco se agravou nos últimos anos. De acordo com os moradores, a comunidade ficou três anos sem receber água regularmente da Operação Carro-Pipa. Nesse período, a sobrevivência foi um desafio diário.

“Há três anos atrás, quem tinha dinheiro comprava água. Quem não tinha, se humilhava pedindo aos donos de açudes ou fazendas. E nem sempre deixavam tirar”, lembra dona Nísia Maciel, outra moradora da comunidade. “Agora a gente tá tendo essa facilidade, e agradece muito por isso.”

A operação foi retomada no início de abril de 2025, com previsão de funcionamento por mais 180 dias, mas a incerteza ainda paira sobre o futuro.

Para muitos líderes locais, como Cleilton, é hora de mudar a forma como a seca é tratada no país. “Seca não é mais desastre. Desastre é uma enchente que arrasta tudo. A seca é o que a gente vive todo dia. Precisamos de programas permanentes, estruturantes, não de medidas emergenciais”, afirma.

Enquanto isso, dona Célia, dona Nísia e tantas outras mulheres do Sertão continuam a carregar baldes. Mais do que água, elas carregam a resistência de um povo que aprendeu a sobreviver entre a dureza da terra e a esperança que nunca seca.

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