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Covid-19: negros representam 59% das mortes em casa no Ceará em março

Senado equipara injúria racial a racismo e aumenta a pena para dois a cinco anos de prisão

Conforme a pesquisa, mesmo “em um contexto de crise sanitária mundial, o racismo não dá trégua e, pelo contrário, mata ainda mais, tanto por vírus como por tiro. Foto: Divulgação

População historicamente mais vulnerável, negros representam 99 das 167 mortes em domicílio por Covid-19, registradas entre 21 e 27 de março de 2021, conforme a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). O grupo corresponde a 59,28% dos registros no Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), enquanto brancos somam 68 mortes no período.

De acordo com pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal do Ceará (UFC), os casos de mortes por Covid-19 em domicílio podem ser subnotificados. No primeiro pico da pandemia, em 2020, o Ministério da Saúde recomendou que a autópsia de mortes ocorridas em casa deveria ser feita por entrevistas com familiares e testes swab (testes para Covid-19).

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“Sem a realização de uma autópsia (completa ou minimamente invasiva) não é possível detectar todas as causas dos óbitos”, explica o Prof. Luciano Pamplona, em entrevista à Agência UFC. “Por isso, a importância do SVO. Temos a possibilidade de óbitos por muitas causas, mas o SVO tem como foco principal identificar causas de óbitos que são capazes de levar outras pessoas a óbito se não detectadas precocemente”, destaca.

Considerando a população negra, o antropólogo Zwanga Nyack destaca que existem relatórios que apontam as desigualdades entre as políticas “desenvolvidas para lidar com a pandemia. E estes relatórios acabam por desmascarar quem são e foram os mais prejudicados”.

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Segundo o pesquisador, ativistas do movimento negro têm “pressionado bastante os governos com relação aos dados relativos a raça/etnia, bem como estão buscando traçar mecanismos de promoção de políticas para combater tais contrastes”.

No acumulado de diagnósticos positivos para Covid-19 no Ceará, negros representam 210.431 casos, segundo o IntegraSUS. Conforme o manifesto do movimento Coalizão Negra Por Direitos, a invisibilidade do grupo na pandemia é uma grave violação aos direitos humanos.

“A dinâmica de contaminação e mortalidade da Covid-19 espelha o histórico de racismo e segregação que se perpetua em nossa sociedade e se materializa na enorme desproporção, tanto em números de pessoas infectadas, como pela elevada mortalidade na comunidade negra urbana e rural. Somos nós, povo negro, moradoras e moradores de regiões periféricas, faveladas, quilombolas, pescadores e de comunidades tradicionais, ribeirinhas e em situação de vulnerabilidade social, sem dúvidas, o segmento populacional mais afetado pela doença”, diz o documento.

O antropólogo Zwanga Nyack recorda que, entre 21 e 27 de março, a maioria das mortes em domicílio atingiu idosos com 60 anos ou mais. Ao todo, foram 128 vítimas da pandemia. “Temos um percentual considerável de idosos negros (pretos e pardos) falecendo nos seus domicílios, por já portarem determinadas comorbidades, conforme os dados apontam. Interessante ressaltar que tais comorbidades, como a hipertensão ou mesmo diabetes, historicamente estão associadas às comunidades negras e aos hábitos alimentares das camadas baixas, o que demonstra uma junção de elementos que contribuem para uma maior afetação por parte dessas comunidades ao Covid-19 em relação às demais. Entretanto, mais pesquisas deveriam ser feitas para que pudéssemos comprovar melhor esse apontamento”, detalha.

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Por fim, além das melhorias nas estatísticas oficiais, o pesquisador reforça a necessidade de aprimorar a campanha de imunização referente aos negros. Segundo levantamento da Agência Pública, 3,2 milhões de brancos foram vacinados no Brasil, contra 1,7 milhão de negros.

“Uma medida mais efetiva de garantir a segurança da saúde da população negra é garantir a vacinação imediata, pela via pública, uma vez que, se não houver por parte dos governos federal e estaduais uma maior agilidade na aquisição de vacinas (bem como não abrir a possibilidade de vacinação pelas vias privadas, que favorecerão o fenômeno de “fura fila” por parte das classes médias altas e altas), de nada adianta sermos colocados como prioridade, já que não haverá vacina para todos”, finaliza.

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