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Agressão em curso da polícia: novo depoimento pode mudar rumo de investigações

Foto: Reprodução

Após a denúncia de uma policial feminina de que teria sofrido agressões durante um curso de formação da Polícia Militar do Ceará (PMCE), no dia 8 de junho, um novo depoimento pode dar outro rumo ao caso. Segundo uma outra participante do curso, que terá sua identidade preservada, a denúncia não se sustenta, pois, segundo ela, nenhuma outra participante confirma a denúncia.

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Conforme um trecho retirado da transcrição do depoimento dado à polícia civil no dia 23 de junho de 2023, última sexta-feira, fornecido por uma policial militar, que também não terá o nome revelado, a acusação é mentirosa.

“A depoente afirma que a denunciante está mentindo, pois não tem como ter ocorrido o que ela alega e as outras alunas não terem tido conhecimento”, garante.

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A agente participou do curso tático direcionado a policiais femininas no Ceará, junto com outras 43 inscritas, e apenas 22 teriam permanecido. Entre as que não desistiram está a investigadora maranhense, de 53 anos.

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No último dia 08 de junho, a policial civil do Maranhão acusou o Cabo Rafael Ferreira Martins, coordenador do curso, por agressões verbais e físicas durante às instruções. Nas redes sociais a suposta agredida chegou a publicar fotos com hematomas nas nádegas, que alega ter sofrido junto com outras alunas, após uma discussão gerada por causa de um pedaço de pizza.

“Eu decidi me juntar ao grupo para que ficássemos todas juntas na sala, uma dando apoio pra outra, quando o cabo Martins, o nosso instrutor, começou a gritar: ‘roubaram minha pizza, roubaram minha pizza, quem foi?’ Ele estava enlouquecido gritando. Quero todas aqui em posição de flexão agora”, declarou a policial que teria sido agredida.

A policial explica que além dela, outras colegas teriam sido agredidas com uma ripa de madeira. O que pode mudar essa versão, são os depoimentos de algumas alunas, que a reportagem teve acesso, que dizem desconhecer tais agressões.

Em um outro trecho do depoimento a testemunha alega não presenciou nenhum dos fatos denunciados.

“Ao ser questionada se viu o Cabo Martins excluir da instrução de armamento quatro alunas e em seguida as levado para trás de um caminhão e agredido com pauladas, a depoente afirmou que não. Disse ainda que nunca presenciou nenhuma agressão ou contato físico entre aluna e instrutor no curso e que não viu nenhuma das alunas ser agredida ou humilhada.”

O Cabo Rafael Ferreira Martins, denunciado pelas agressões, foi localizado pela reportagem e falou com exclusividade. Ele foi afastado do curso, mas não das funções da PM do Tocantins. Disse desconhecer tais agressões.

“Meu sentimento é até difícil dizer pra você. Ao longo destes 9 anos que eu tenho de instituição, quase 7 dedicados a treinar, operar e instruir. Agora vem uma pessoa que não tem respeito pela historia alheia, humildade de reconhecer a perda, fraqueza e dificuldade em desistir do curso, tenta encontrar desculpas por não ter conseguido concluir o curso. As outras 21 alunas continuam firmes e fortes.”

Martins ainda garante que está pagando um preço muito alto pela denúncia das supostas agressões.

“É um sentimento de frustração, essa senhora me trouxe um prejuízo muito grande. Fiquei muito triste em ter sido afastado, me programei pra ir até o final. Paguei um preço caro por esta denúncia, gostaria de ter contribuído ainda mais. Não aconteceu de jeito nenhum o que ela relatou, não tem como eu me arrepender de algo que não fiz.”

Questionado sobre os hematomas que surgiram nas nádegas da policial, o instrutor alega que ocorreram vários tombos durante os procedimentos que teriam ocasionado as lesões nas alunas. As policiais estavam equipadas com vários equipamentos pesados de proteção pessoal. Segundo o relato do Cabo Martins, tem uma testemunha que diz que ela teria tido uma queda feia, caiu e se machucou.

Em mais um trecho do depoimento, a aluna, que permanece no curso, e confronta a denúncia, disse o seguinte:

“Acredito que ela tenha se machucado por ter caído com os glúteos sobre os objetos já lançados. Que após a queda, a linha de frente (escudeiras) continuou avançando. Que logo depois a instrução acabou.”

Por conta da repercussão do assunto, já que a policial denunciou o agressor e postou nas redes sociais fotos com hematomas nas nádegas, o caso foi parar no gabinete do governador Elmano de Freitas. O chefe do executivo estadual exonerou o diretor-geral da Academia Estadual de Segurança Pública (AESP), o coronel da PM Clauber Wagner Vieira de Paula.

“Inadmissível e revoltante a denúncia de agressão cometida por um policial de Tocantins, responsável por ministrar um dos módulos do Curso Tático Policial Feminino na Academia Estadual de Segurança Publica, contra uma policial civil do Maranhão”, publicou nas redes sociais Elmano de Freitas

O novo diretor-geral anunciado pelo governador é o Coronel José Kilderlan Nascimento de Sousa. Ele foi comandante do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), mas ainda não teria assumido a nova função. Questionamos a Secretaria de Segurança Pública (SSPDS-CE), que não respondeu aos nossos e-mails. A reportagem também localizou o coronel Kilderlan, que disse que não responderia aos nossos questionamentos, que as dúvidas deveriam ser tiradas com a comunicação do governo.

Tivemos acesso a um documento que mostra que a policial Kamilly Campos estaria à frente do cargo como respondência, diferente do comunicado do governador Elmano de Freitas. O canal permanece aberto para que o governo explique como deve ficar a direção da Academia Estadual de Segurança Pública.

A Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS) apenas informou em nota que a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Publica (CGD) instaurou procedimento disciplinar. Ainda de acordo com o texto, a secretaria diz que não compactua com tais condutas.

“Todas as denúncias apresentadas passam por investigação preliminar, no intuito de que indícios de autoria e materialidade sejam colhidos para dar subsídios ao oferecimento de instrução processual e adoção de medidas cabíveis na esfera criminal”, conclui a pasta.

Entenda o caso

Uma investigadora da Polícia Civil do Maranhão (PC-MA), de 53 anos, denunciou agressão a pauladas por um instrutor durante a 3ª edição do Curso Tático Policial Feminino (CTAP) realizado pela Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp). A vítima, que sofreu hematomas nas nádegas, divulgou o caso em suas redes sociais após pedir para sair do curso e retornar ao seu estado de origem.

A agressão, que ocorreu em maio, só veio a público neste mês de junho, quando a policial publicou imagens dos hematomas em suas redes sociais, questionando a conduta do agente. Além dela, outras participantes do treinamento também teriam sido vítimas de agressões.

“Sim, essa sou eu, vítima de um macho escroto que se diz instrutor de curso! Um cabo da polícia militar do Tocantins, que mesmo depois do ocorrido está sendo ovacionado pela instituição e por todos que participaram do curso. Curso tático feminino deveria, sim, ser direcionado apenas para mulheres”, relatou a policial civil que fez a denúncia de agressão durante curso tático no Ceará.

Diante do ocorrido, a Secretaria da Segurança do Ceará (SSPDS) abriu uma investigação para apurar as agressões a policiais femininas durante o curso tático da Polícia Militar. Segundo relato da vítima, o agente teria utilizado uma ripa de madeira para agredi-las nas nádegas.

 

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