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Atraso na folha de pagamento é “pedra no sapato” nas primeiras semanas dos novos prefeitos no interior do Ceará

Atraso na folha de pagamento é pedra no sapato nas primeiras semanas dos novos prefeitos no interior do Ceará

Em Acarape, trabalhadores fizeram manifestação para cobrar os vencimentos

Em Juazeiro do Norte, no Cariri, trabalhadores discutem uma possível paralisação. Em Acarape, em outro extremo do interior cearense, os servidores já foram às ruas. A pauta é comum nos dois municípios e em outros no Estado: atrasos nas folhas de pagamento. As cidades passaram, no último dia 1º de janeiro por transição na gestão municipal. Saiu o prefeito apoiado por um grupo e assumiu outro, que estava na oposição. O problema se repete em, pelo menos, 25 locais do Ceará em que houve troca de governantes.

A situação impacta nas primeiras ações dos novos prefeitos, que em vez de focar nos compromissos assumidos em campanha, são obrigados a se responsabilizar pelas dívidas deixadas pelos antigos gestores. De acordo com Carmem Santiago, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará (Fetamce), o processo é chamado de desmonte municipal – atos que causam a desorganização administrativa após as eleições.

Amontada é um dos municípios citados na lista da Fetamce sobre atrasos salariais referentes à folha de pagamento de dezembro. A Prefeitura ainda deve 50% do 13º salário dos profissionais da Secretaria Municipal de Educação. De acordo com Flávio Teixeira, novo chefe de gabinete, o atual mandatário analisa as contas deixadas pelo antigo gestor. “Boa parte do saldo existente se refere a convênios que não podem ser utilizados nos pagamentos dos servidores. A gestão deve pagar 50% da folha de dezembro de 2020 nesse mês de janeiro”, avalia. O município faz uma análise financeira para apresentar aos servidores, nas próximas semanas de janeiro, um plano de parcelamento referente a outra metade do salário e ao subsídio de fim de ano da Educação.

A situação é ainda mais complicada em Acarape, no Maciço de Baturité. Alguns trabalhadores estão sem salários desde novembro, segundo a Fetamce. Entretanto, segundo um ex-funcionário, existem pessoas que não recebem desde setembro do ano passado, algumas da área da saúde, que atuaram durante o pico da crise sanitária. “O nosso pagamento nunca teve uma data específica, sempre era essa humilhação de tá perguntando aos secretários e nas rádios locais da cidade vizinha pra saber quando iríamos receber”, revela a professora Brena Sales.

O ex-prefeito, Franklin Veríssimo, admitiu o atraso no segundo semestre e associou o problema nos repasses aos “elevados gastos” no combate à Covid-19. “Isso porque não medimos esforços e não economizamos recursos para salvar vidas”, escreveu. A atual gestão foi procurada pelo GCMAIS para comentar as ações tomadas para solucionar o imbróglio, mas até o momento, nenhuma mensagem foi respondida.

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No Cariri, Juazeiro do Norte e Barbalha passaram pelas transições de prefeitos. Nas duas cidades, os servidores cobram das respectivas administrações, a folha de pagamento referente a dezembro.

Na primeira, o Sindicato dos Servidores Municipais de Juazeiro do Norte (Sisemjun) já convocou até paralisação na segunda semana do ano. Gledson Bezerra, que assumiu a gestão municipal em 1º de janeiro, afirmou ao Jornal da Cidade que, por conta da limitação do caixa da prefeitura, o pagamento dos efetivos será priorizado. Em Barbalha, a gestão informou que deve fazer, nos próximos dias, uma apresentação sobre a saúde fiscal e as dívidas que o antigo gestor deixou.

Novos prefeitos em um novo normal

A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) pontua que “o primeiro ano é muito importante para desenhar como será o governo e, como todo planejamento, não pode ser estático”. Com a pandemia de coronavírus, os recursos, principalmente no interior, tendem a ficar ainda mais escassos em 2021, complicando ainda mais a atuação dos novos prefeitos.

“O socorro da União aos municípios não tem como se repetir em 2021. É um ano de muito desafio na parte fiscal”, aponta José Ronaldo de Castro Souza Júnior, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em entrevista à Agência Brasil. “Os gestores municipais estão sem quase nenhuma disponibilidade de caixa para políticas públicas, investimentos e gastos que não sejam pagar salários”, completa.

Desde o fim de 2020, o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Ceará (TCE) fiscalizam as mudanças nas prefeituras para apurar possíveis irregularidades. “Nosso objetivo é manter a legalidade e o respeito ao interesse coletivo, atuando de forma preventiva para garantir a continuidade do serviço público e evitar possível dilapidação do patrimônio”, detalhou o presidente da Corte, Conselheiro Valdomiro Távora.

A Associação de Prefeitos do Ceará (Aprece) ressalta o cuidado que os prefeitos devem ter, ao deixar o Executivo. Entre as recomendações está o “o fidedigno registro da situação com gastos de pessoal para que a próxima gestão tenha total ciência da situação”. Em caso de atraso na folha de pagamento, cabe ao novo titular reconhecer a dívida e o tempo para quitação, segundo orientação antidesmonte do MPCE.

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