Em diversos países do mundo, o coronavírus vem apresentando mutações. Como outros vírus, ele sofreu mudanças na sua estrutura que podem ter efeitos diferentes no contato com as pessoas. Entender essa nova versão e o impacto dela na saúde da população é essencial para traçar uma estratégia de controle da pandemia.
Mas a falta de investimento em ciência e tecnologia deixam o Brasil em uma situação difícil neste momento. Segundo o médico e professor Odorico Monteiro, atualmente o País não possui tecnologia o suficiente para fazer uma vigilância constante do vírus que seja capaz de lidar com as mutações.
“Nós no Brasil nem temos vigilância epidemiológica, para avaliar a situação do vírus na comunidade, nem temos vigilância genômica, para analisar as variantes”, diz o pesquisador. “Para que você estude o vírus e entenda o que está acontecendo, é preciso fazer o mapeamento genético dele. E nós não temos tecnologia no Brasil para fazer a vigilância dinâmica do vírus. Que é uma coisa simples de se fazer, mas como a gente não tem investido em ciência e tecnologia, nós temos total dependência”, explica.
A chegada das novas variantes do coronavírus é motivo de preocupação dos agentes de saúde da maior parte do Brasil. No Ceará, pelo menos 190 pessoas são suspeitas de estar infectadas com a cepa de Manaus. Destes, 13 óbitos estão sendo investigados para saber se foram por conta dessa mutação ou não. No começo do mês de fevereiro, três pessoas no estado foram confirmadas com a nova variante.
Novos efeitos
Ainda não há certeza de como essas mutações atingem a saúde da população, mas existem pessoas que, por conta da mudança no vírus, foram infectadas novamente e sofreram sintomas diferentes da primeira vez.
É o caso do juiz Daniel Pessoa, que contraiu a covid-19 ainda no começo da pandemia, no final de fevereiro. Apesar de, na época, se saber muito pouco sobre a doença, ele conta que conseguiu reverter a situação apenas com acompanhamento médico. Mas, recentemente, Daniel voltou a adoecer e constatou que estava infectado novamente. E o pior, com sintomas mais graves.
“Inicialmente, muita dor na cabeça e nas articulações”, explica ele. “Nos dois primeiros dias eu não conseguia levantar, colocar os pés no chão. No terceiro dia começou uma febre alta, de 39ºC, 40ºC”. Depois disso, ele precisou ser internado.
A experiência recente mudou a percepção de Daniel sobre a covid-19. Apesar de já ter considerado que a doença não era tão grave, ele alerta que, hoje, são essenciais as medidas de prevenção contra o coronavírus.
“A gente vê toda essa mobilização social de não querer se isolar. Eu acho que as pessoas não têm uma ideia real do que vem acontecendo, da forma que vem acontecendo. Eu também pensava assim. Pensava que alguns cuidados ia evitar que a gente se contaminasse, mas não, essa doença chegou próximo à minha família e está sendo devastadora”, declara o juiz.