A Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade de Harvard estão unindo forças para investigar os transtornos do sono em pacientes que sofreram da covid longa. A parceria entre as duas instituições de renome busca ampliar os estudos sobre as consequências neurológicas do vírus a longo prazo, especialmente as alterações no sono de indivíduos afetados pela condição.

O trabalho conjunto entre as universidades já está em andamento e promete impulsionar descobertas importantes sobre como a covid longa impacta a qualidade do sono, bem como os mecanismos subjacentes que podem estar associados a distúrbios neurológicos.

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Desde o início da pandemia, a UFC tem realizado estudos focados nos efeitos da covid longa, com um olhar atento para os sintomas neurológicos, como transtornos do sono, alterações cognitivas, problemas no olfato e dores de cabeça. Os professores Manoel Sobreira Neto e Pedro Braga, da Faculdade de Medicina (FAMED) da UFC, são responsáveis pela liderança do projeto, que já acompanhou um grupo de aproximadamente 150 pacientes até 2022.

Essa primeira fase da pesquisa se concentrou no estudo dos diversos transtornos do sono causados pela covid longa. Em 2023, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os pesquisadores da UFC deram um passo importante ao incluir exames de polissonografia nos pacientes. O exame permite a medição de parâmetros complexos durante o sono, como atividade cerebral, fluxo respiratório, eletrocardiograma, movimentação dos membros e oxigenação do sangue. Esses testes, que devem ser concluídos até o início de 2024, fazem parte de uma investigação mais profunda sobre os impactos da doença.

Além disso, os pacientes estão sendo monitorados por meio de ressonâncias magnéticas cerebrais e avaliações neuropsicológicas, além de pesquisas sobre biomarcadores séricos que possam indicar doenças neurodegenerativas.

Parceria internacional com Harvard

Foi no decorrer dessas investigações que a equipe da UFC conheceu os estudos realizados pelo grupo da professora Janet M. Mullington, da Universidade de Harvard. Ela é especialista em sono e inflamação, e coordena uma pesquisa que envolve vários centros de estudos financiados pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH). A colaboração foi formalizada quando o professor Manoel Sobreira Neto foi convidado a realizar um estágio de pós-doutoramento em Harvard, entre julho e dezembro de 2023, para aprofundar os estudos sobre o impacto da covid longa no sono.

Essa colaboração permitiu uma troca de conhecimentos sobre a microestrutura do sono, particularmente no que diz respeito ao sono REM (Rapid Eye Movement), que é vital para o processamento de memórias e aprendizagem. Durante o sono REM, os músculos do corpo ficam inativos, mas alguns pacientes com covid longa apresentaram perda dessa inatividade muscular, o que significa que seus músculos continuam ativos durante o sono.

Análises mais detalhadas e uso de inteligência artificial

O objetivo dessa parceria é usar dados de ambas as pesquisas para realizar uma análise mais abrangente sobre as alterações no sono dos pacientes com covid longa. Uma das abordagens envolve o uso de inteligência artificial para estudar a microestrutura do sono, algo que pode revelar alterações sutis nas fases do sono que não são visíveis na análise tradicional. Em particular, a perda da atonia muscular no sono REM está sendo associada a doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson e a demência por corpos de Lewy.

Além disso, a diversidade das populações pesquisadas é um ponto de destaque. A pesquisa em Harvard foca principalmente em uma população caucasiana e de perfil socioeconômico mais elevado, enquanto a pesquisa da UFC envolve uma amostra de latinos de perfil socioeconômico mais baixo. Isso possibilita uma análise mais rica e completa, levando em conta as diferenças socioculturais e econômicas nas respostas do organismo à covid longa.

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A parceria entre a UFC e Harvard visa a criação de um projeto de médio e longo prazo, com duração estimada de cinco anos. O objetivo é realizar publicações conjuntas, enviar alunos de pós-graduação para programas de doutorado sanduíche e participar de congressos internacionais.

Atualmente, a equipe da UFC está recrutando voluntários saudáveis para formar um grupo de controle, que servirá como base para comparação com os pacientes de covid longa. O objetivo é entender as diferenças nas respostas fisiológicas e neurológicas entre os dois grupos. Os interessados em participar da pesquisa podem se inscrever através de um formulário online disponível no site da universidade.

Com o potencial de gerar descobertas significativas sobre os efeitos a longo prazo da covid, essa colaboração entre a UFC e Harvard não só fortalece o campo da pesquisa sobre transtornos do sono, como também abre portas para futuras iniciativas de saúde pública e diagnóstico precoce de doenças neurodegenerativas.

Para mais informações ou para se inscrever como voluntário, acesse o formulário: Formulário de inscrição.

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