“Então é natal e o que você fez…”
Muito antes da Simone reverberar em nossos ouvidos os feitos e as faltas do ano que passou, já vivíamos esse conflito nostálgico dentro da nossa consciência.
Desde 1582, quando o papa Gregório XIII instituiu o calendário que hoje utilizamos, o final de um ano e o início de outro se tornou marco para reflexão do que se foi e parâmetro para uma nova empreitada.
As emoções são mais vívidas nesse período por serem reativadas de modo comunitário numa retrospectiva global, havendo ainda uma pressão pessoal e social por grandes conquistas no novo ciclo. Isso tudo traz à tona pensamentos que carecem de compreensão e acolhimento afetuoso, caso contrário, deflagrarão dores, angústias e adoecimento.
Precisamos estar atentos e entender que, além do simbolismo desse período, os marcos para mudança e ressignificação são diários. Não é o 25 de dezembro ou o primeiro de janeiro que definem o momento ideal de reviravolta em nossas vidas. A carga dessas datas pode ser um peso em quem não abraça os próprios limites e para quem não contextualiza tudo que viveu.
O ontem não nos pertence mais e o amanhã ainda não é nosso, como diria Santo Agostinho, e é nessa perspectiva que precisamos atuar no hoje como sendo o tempo que nos é destinado, experimentando assim o natal e o réveillon como datas que possuem a sua mística, nunca adoecedoras por si só, mas respondendo sempre pela sobrecarga que a elas é destinada.
Então, munidos pelas nossas possibilidades e potencialidades de hoje, tenhamos todos um belo ano novo.
Thiago Macedo
Médico psiquiatra e escritor
As opiniões não refletem o posicionamento do Grupo Cidade de Comunicação.
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