A demissão provoca um processo similar ao processo de vivência do luto, porque também é um tipo de morte, de findar de ciclo
Demissões em massa: como passar pelo luto da saída de uma empresa
A notícia das demissões coletivas que aconteceram há pouco na equipe de jornalismo e também na seção de esportes da Rede Globo de televisão, levantaram importantes discussões sobre a relação que empresas e pessoas mantém entre si.
Se de um lado parece cruel que uma empresa desligue um profissional que está há anos compondo o seu quadro e colaborando para que essa empresa cresça e prospere, por outro, a empresa também colabora como profissional não apenas com o salário devido ao final do mês, mas com experiência, network, aprendizados em diversos níveis que poderão, inclusive, levar este profissional a voos mais altos.
Ou seja, a relação entre o profissional e a empresa que o emprega precisa ser uma relação ganha-ganha. Esse é o princípio de um relacionamento que será bom para os dois lados, será duradouro o suficiente e, quando findar, seja por parte da empresa ou do profissional, ambos estarão satisfeitos com o que foi produzido até ali por aquela relação.
Mas sabemos que nem sempre é isso que acontece. A demissão é, quase sempre, um corte muito brusco de um vínculo de grande significado e importância. Existe uma dependência, em geral por parte do profissional, que ou não está organizado financeiramente para passar pela lacuna do desemprego, ou construiu um pertencimento tão profundo àquele sistema, que não consegue se ver em outro contexto de trabalho e sucumbe à tristeza.
Sendo assim, de acordo com o pesquisador do comportamento humano José Roberto Marques, que estuda há trinta anos teorias sobre comportamento e mentalidade, a demissão provoca um processo similar ao processo de vivência do luto, porque também é um tipo de morte, de findar de ciclo. Ele explica que “quando uma pessoa que está há muito tempo trabalhando em uma empresa é demitida e sabe que nunca mais estará naquele ambiente, com aquelas pessoas, fazendo aquelas tarefas diárias, ela sente como se uma parte de sua vida estivesse morrendo, isso produz tristeza e incerteza.”
Mas o especialista também explica que o luto é um processo de adaptação à mudança. Quando alguém do nosso convívio morre somos obrigados a adaptar a nossa rotina à ausência daquela pessoa. Sentimos saudade, algumas vezes culpa, arrependimentos, mas seguimos nossa vida. Com todas as demais mudanças acontece o mesmo.
“A maior estudiosa do luto, Elisabeth kubler-ross, propõe 5 fases dessa vivência, que eu também verifico em todos os processos de mudança mais difíceis, como uma demissão. Primeiro, negamos que isso esteja acontecendo e não queremos encarar o fato; depois sentimos raiva por isso ter acontecido; em seguida temos uma tentativa de barganha, de tentar negociar com alguém que possa reverter a situação, quando isso não acontece começa um processo de depressão, de tristeza profunda, quando essa tristeza passa começamos a aceitação. Sem aceitação não existe mudança e evolução.”
José Roberto Marques também dá algumas dicas para os profissionais que, como os que estão envolvidos nas demissões coletivas da Rede Globo, estão vivenciando esses sentimentos de tristeza, angústia, raiva e outros sentimentos próprios do luto.
O especialista afirma que a primeira atitude deve ser fazer um balanço honesto e realista de todos os ganhos que o profissional teve no período de trabalho. Por mais doloroso e demorado que seja o processo de luto, reconhecer tudo que foi positivo ajuda a gerar emoções positivas e a liberar a tristeza e a raiva.
Um próximo passo é pensar como esse fato, aparentemente doloroso, pode abrir uma oportunidade de criar algo novo na própria carreira e na própria imagem. Talvez, em vez de buscar o mesmo caminho de trabalho, seja uma chance de reposicionamento muito produtiva, uma nova profissão ou um novo posicionamento dentro da própria área, uma atualização.
Por fim, não deixar que esse fato se torne uma sombra permanente trazendo memórias de dor. Não se trata de esquecer, uma vez que isso não é possível, mas de aceitar o fato de ter sido demitido e que esse movimento de final de ciclo é natural, que já aconteceu e pode acontecer novamente.
Em alguns casos, conforme orienta José Roberto Marques, pode ser uma boa ideia contratar um profissional em reposicionamento de carreira que possa orientar esse processo dando suporte emocional e, principalmente, orientação especializada.
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