No combate ao preconceito racial, Defensoria Pública do Ceará atua como um divisor de águas no resgate da dignidade humana
Da casa grande para as redes: Discursos racistas se multiplicam na internet
Nunca foi fácil e nunca será
Para o povo preto do preconceito se libertar
Sempre foi luta, sempre foi porrada
Contra o racismo estrutural, barra pesada
Elza Soares e Flávio Renegado- Negão Negra
A população negra é diariamente exposta à violência. Nas ruas, no trabalho, dentro de casa e até na internet, onde perfis anônimos aproveitam a incógnita para promover ataques de ódio, acreditando que não serão punidos. Recentemente, Emanuella Braga, jornalista do Grupo Cidade de Comunicação, foi discriminada nas redes sociais. Ela aproveitou o espaço na TV para publicizar a situação.
Ao Portal GC+, Emanuella Braga falou sobre o episódio
https://youtu.be/sRo4hM6lY8Q
Racismo estrutural
Emanuella é uma pessoa pública, mas a situação não é um caso isolado. Ações afirmativas, que buscam equiparar os espaços ocupados na maioria por pessoas brancas, são questionadas. Pessoas negras em posição de destaque, também. O conceito que explica como a cor da pele é capaz de assegurar mais direitos para uma pessoa em detrimento de outra é o racismo estrutural.
“É algo que muitas vezes passa imperceptível. A gente encontra na sociedade uma dificuldade de identificar, mas ele está presente no Ceará, como no Brasil, de uma maneira muito forte, muito atual, e por isso que nós precisamos tirar essa invisibilidade e debater o tema”, explicou a supervisora do Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas da Defensoria Pública do Ceará, Mariana Lobo.
De acordo com a supervisora, a Defensoria cumpre um papel na defesa de pessoas que passaram por violações, como o racismo. Escute:
O Brasil foi formado pela mão-de-obra escrava, de homens e mulheres negros vindos da África. Há apenas 132 anos a escravidão foi abolida, mas isso não foi o suficiente para reduzir as desigualdades sociais. O preconceito racial ainda é uma das máculas de nossa sociedade e se ramifica.
Jefferson Rocha é figurinista e produtor de moda. Em um aplicativo de relacionamento, passou por situação de racismo. “Um cara simplesmente chegou do nada e me mandou um ‘vai tirar essa barba imunda seu macaco preto de merd*’ e que meu lugar era num chiqueiro”, relembrou. O ataque não foi o primeiro. Em discussão anterior, ao debater sobre a beleza de um artista, tentou argumentar com um colega sobre o preconceito disfarçado de opinião, mas não foi ouvido. “Um cara branco veio dizer que não achava ele [artista] bonito por conta dos traços. Comentei logo abaixo, dizendo que isso se dava por um pensamento racista e ele tentou argumentar, dizendo que era apenas gosto e a opinião dele e que isso não o caracteriza como racista. Quando tentei explicar, ele negou mais uma vez, mas já que eu estava falando, ele iria comprar dois negros para ele chicotear no quintal de casa”, desabafou.
Dados
A população autodeclarada negra cresceu 82% no Ceará, entre 2012 e 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), passando de 2,9% para 5,3%. Este índice equivale a uma população de quase 480 mil pessoas, segundo o Instituto.
Apesar disso, a discriminação é constante. Em julho, a Rede de Observatórios da Segurança divulgou o estudo “Racismo, motor da violência”. O Ceará fez parte desta pesquisa e um dos fatores que chamou atenção foi como as mortes de negros são abordadas em dados oficiais. De acordo com o levantamento, em 2019, o Estado ocupou o 3º lugar em número de chacinas: foram 23 no Rio de Janeiro, 17 em Salvador e 7 em Fortaleza. O problema da discriminação de cor motivou a publicação. O sociólogo e coordenador da rede de observatórios no Ceará, César Barreira, explica que a questão do racismo está presente nos casos de violência registrados.
Equidade é a saída
Em 2020, uma política afirmativa importante completa 10 anos: o Estatuto da Igualdade Racial. A coordenadora de Promoção da Igualdade Racial do Ceará, Zelma Madeira, expressa a necessidade de ampliar essas ações.
Na Defensoria Pública do Ceará, a inclusão está em pauta. A instituição vai criar uma política de cotas exclusiva para negros em todos os concursos que promover. A ideia é garantir que essa população tenha ainda mais destaque, como explica a diretora da Escola Superior da Defensoria, Patrícia de Sá Leitão.
https://youtu.be/-I6L-gya0x4
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