Está marcada para a próxima quinta-feira, 22 de abril, a retomada do julgamento do recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Lula junto ao Supremo Tribunal Federal. Dessa vez será discutida e votada a possível parcialidade do ex-juíz Sérgio Moro nos casos do sítio de Atibaia, do Instituto Lula e do apartamento em São Bernardo. 

As reiteradas decisões da Suprema Corte, favoráveis ao ex-presidente Lula, ajudam a reforçar o discurso de que o mesmo foi alvo de perseguição política, tendo em vista a criação de elementos para impossibilitar a sua candidatura na eleição presidencial de 2018. 

No Cenário de representação da política alguns personagens conseguem se destacar e mais facilmente conquistar a adesão do público, objetivando a conversão de espectadores em eleitores.  

Autor do livro “O Estado espetáculo”, Roger-Gérard Schwartzenberg analisa algumas figuras exitosas no campo do espetáculo político, como a do homem simples que conseguiu vencer as adversidades e tornou-se uma inspiração para os demais; a da pessoa envolvente, mestre em seduzir os eleitores; a do ídolo responsável pela “salvação da pátria”; e a do protetor dos mais vulneráveis e do país. 

A habilidade estratégica está em conseguir identificar qual ou quais dos tipos descritos por Schwartzenberg funcionarão mais eficazmente nos diversos períodos eleitorais. Podemos considerar, em relação ao ex-presidente Lula,  a utilização diligente de todas essas imagens, tanto para a conquista como para a manutenção do poder. 

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Os recentes posicionamentos do STF podem servir de substrato para a retomada da narrativa épica que foi construída a partir da imagem do homem simples, nascido no interior do nordeste brasileiro e expulso da sua própria terra pela necessidade de sobrevivência. Ao chegar a São Paulo, o mesmo precisou conquistar a sorte para “tornar-se gente”, ou seja, encontrar um trabalho que permitisse a sobrevivência digna. O herói venceu as primeiras batalhas e firmou-se no propósito de defesa da sua classe. Como sindicalista enveredou no espaço da política institucional e, com a sorte domada, o líder fascinante chegou à Presidência da Republica para garantir uma sociedade mais justa, equilibrada e respeitada internacionalmente. Afinal, nem todos os dias um chefe de Estado era chamado de “o cara” por Barack Obama. 

Para o pleito de 2022, toda essa história será recontada pela campanha do ex-presidente, com o acréscimo do episódio da perseguição responsável pela prisão de Lula e motivada por interesses espúrios de pessoas contrárias aos mais nobres ideais democráticos. 

Todavia, como em todo campo de disputa, a contranarrativa também apresentará os seus heróis, os líderes charmosos, os “salvadores da pátria”. O resultado eleitoral sempre será mais favorável ao candidato que melhor incorporar o papel desejado pelo eleitor.  

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