O médico José Fernandes Vilas fala sobre o QuietQuitting, fenômeno vivido pela geração millennials nas relações de trabalho, que viralizou no Tik Tok e outras redes sociais

Quiet Quitting e Quiet Firing: o que são e o que leva patrões e empregados a adotarem esses comportamentos
O Quiet Quitting, que começou nos Estados Unidos e já tem reflexos no Brasil, invadindo as redes sociais, como Tik Tok e Twitter, recentemente, acendeu um alerta sobre o que está por trás da “demissão silenciosa”, tradução da expressão em inglês. As pessoas que se encaixam nessa descrição não estão desistindo do seu emprego, mas entregando o mínimo possível de resultados, apenas para se manter empregada, em nome da própria saúde mental. É o que explica o médico José Fernandes Vilas, lembrando que o fenômeno se refere a um grupo de pessoas fruto da nossa própria sociedade: a geração Millennials, também chamada de Geração Y, nascida nos anos 80.

“O movimento é conectado a esse estresse exagerado, conectado ao Burnout – Síndrome do Esgotamento Profissional – e ao que virou a nossa vida no trabalho”, explica.
José Fernandes Vilas, que é especialista em neurologia e psiquiatria clínica, e que virou referência no Brasil por ser pesquisador do Burnout, lembra que os millennials fazem parte da geração cujos pais saíam de casa para trabalhar muito cedo – muitas vezes de madrugada – e, quando voltavam, os filhos já estavam dormindo. “Esses pais trabalhavam nos finais de semana também e não tinham tempo de lazer com a família. Então, os millennials, depois de processarem toda essa ausência de pai e mãe, em nome do sustento que tinham de trazer para os lares, começaram a entender qual seria o real sentido das coisas. Quando perceberam que a empresa onde trabalham estava exigindo mais do que o que foi contratado, perdem o sentido pessoal de realização. Logo, começam a se desligar. É como se saíssem à francesa, por isso o QuietQuitting.”
Como uma solução, empresas estariam adotando o QuietFiring (demitir silenciosamente), onde gradualmente se cria um ambiente de trabalho insustentável, que força o indivíduo a sair. “Esse processo já existia nas empresas, que é quando o patrão tem de mandar embora o funcionário, porém de forma silenciosa. E como acontece? O patrão não dá mais serviço ao funcionário ou dá serviço demais, até que ele se sinta sobrecarregado e peça demissão. Ou, ainda, ele requisita trabalhos que sabe que o funcionário não vai dar conta, forçando, automaticamente, um pedido de demissão”, explica o médico.
Para José Fernandes Vilas, a situação está clara e é preciso sair do silêncio dos dois fenômenos que, na verdade, são repletos de significado. “Agora, a gente pode olhar e falar: ‘Vamos fazer algo que não seja “quiet“, porque a gente não quer algo silencioso. A conversa aberta não pode ser “quitting”, que é desistir. Na verdade, a gente deveria fazer uma “Loud Conversation“, ou seja, conversa em voz alta, para discutir o que está acontecendo e chegar a soluções em nome da saúde mental”, acredita o médico, que é autor da obra e best seller “Quando o sucesso vira burnout.”

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