CRIME

App de transporte bane 730 pessoas por semana por assédio sexual

Casos de assédio sexual representam 23% das denúncias feitas à 99, sendo que 51% contra passageiros e 49% contra motoristas

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10 de dezembro de 2020
Márcia Catunda

Casos de assédio sexual provocam, por semana, o banimento de 730 pessoas, entre motoristas e passageiros, da empresa de transporte por carros de aplicativo 99, de acordo com dados divulgados na última quarta-feira (9).

App de transporte bane 730 pessoas por semana por assédio sexual
Foto: Reprodução

Segundo a companhia, 59% dos casos de segurança poderiam ser evitados se houvesse respeito entre as partes. Os casos de assédio sexual representam 23% das denúncias, sendo que 51% contra passageiros e 49% contra motoristas.

O motorista Lupércio Datilo revelou que foi assediado por um passageiro que sentou no banco da frente e colocou a mão na perna dele. Apesar de o homem insistir que não tinha segundas intenções, o motorista afirmou que a situação se repetiu até o encerramento da corrida.

Em outra viagem, uma mulher que teria usado drogas o convidou a entrar na casa dela mesmo sabendo que o condutor era casado. Segundo Lupércio, as duas ocorrências foram relatadas a 99: “Me senti constrangido”.

Em parceria com o Instituto Ethos, a empresa lançou um guia com orientações para motoristas e passageiros com o intuito de evitar situações como assédio sexual, agressões físicas e verbais e discriminação contra a comunidade LGBTQI+, negros, pessoas com deficiência, entre outros.

A diretora de comunicação da 99, Pamela Vaiano, explicou que os rastreadores de comentários priorizam os casos de assédio. “É feito o bloqueio preventivo da pessoa enquanto a situação é averiguada e também é solicitado o boletim de ocorrência. O agressor é banido da plataforma e a vítima é acolhida. É oferecido apoio psicológico e jurídico”, afirma.

Números

De acordo com um levantamento feito pela empresa, 14% das denúncias registradas na plataforma são de agressão verbal, sendo 73% contra motoristas, e outras 7% por agressão física. Novamente 81% das vítimas são os condutores.

As discriminações, como racismo e LGBTFobia, totalizam 4% dos casos, sendo que 69% das vítimas são passageiros.

Eliseu Neto é psicólogo e assessor legislativo e foi vítima de discriminação em Recife durante as férias por ser homossexual. Ele foi agredido por um policial e levado até ele pelo motorista da 99. O caso ganhou repercussão, está também na Corregedoria e o condutor foi banido. “Esta é uma luta cultural, daí a importância de a gente denunciar. Perdi uma semana de férias relatando a agressão. As pequenas lutas vão mudando o país”, ressalta.

De acordo com a empresa, 99% das viagens terminam tranquilamente. Na plataforma há 20 milhões de pessoas e 750 mil motoristas parceiros que atuam em 1.600 cidades do país.

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Pesquisa

Os motoristas e passageiros foram perguntados sobre o que é aceitável nas corridas e há diferenças que chegam a 851%, como é o caso do não pagamento de viagens. Há ainda solicitações ilegais como parar em local proibido e pedi para transportar mais pessoas do que o permitido.

Outras condutas são comportamentais, como entrar sujo ou bêbado no carro, bater a porta, deixar o motorista esperando ou comer durante a corrida.

O desrespeito a regras de trânsito é o que mais incomoda passageiros. Entre as infrações estão dirigir em alta velocidade, passar sinal vermelho, falar ao telefone ou até fazer um caminho desnecessário para aumentar o preço da viagem.

Guia da comunidade

Na tentativa de atacar os problemas identificados pela plataforma, Ethos e 99 trabalharam juntos por um ano na elaboração do guia da comunidade, disponível no site. No período, foram feitas 18 conversas com grupos focais de gênero, raça e orientação sexual, 1.600 pessoas participaram da consulta pública e 29 pesquisas foram realizadas com passageiros e motoristas.

O documento é dividido em cinco tópicos: respeito, segurança, responsabilidade, comunicação e medidas de proteção e higiene por causa da pandemia do novo coronavírus. Neles são detalhadas as condutas esperadas, direitos e deveres.

De acordo com Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, “a missão é mobilizar empresas para que tomem decisões para enfrentar os problemas e construir soluções, de forma justa e sustentável, para uma convivência pacífica”.

Entidades como Mulher 360, em defesa da equidade de gênero, e o Instituto Modo Parités, de inclusão social de pessoas com deficiência, foram consultadas na elaboração do guia e destacaram a importância de ações para mudar o comportamento da sociedade.

Nos próximos dias, o aplicativo de transporte vai ter um botão para que ele possa conhecer o guia. “Há subnotificação e a denúncia é essencial. Este é o primeiro passo de um grande projeto de mobilização e da campanha ‘Com respeito a gente anda junto’, destaca Pamela Vaiano.

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