Uma pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Biomedicina (NUBIMED), da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, em parceria com outras instituições, concluiu que medicamentos que compõem o coquetel anti-HIV não têm eficácia no tratamento da covid-19. O protocolo do estudo aplicou uma combinação dos fármacos tenofovir e emtricitabina, utilizados no tratamento de pessoas com o vírus da Aids, mas as substâncias não alteraram significativamente o quadro sintomático em pacientes com o novo coronavírus.
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“A pesquisa tem suas limitações e sugerimos novos estudos com protocolos diferentes, mas podemos afirmar que não há recomendação para o uso desses medicamentos no tratamento de pacientes com a covid-19”, conclui o Prof. Aldo Ângelo Lima, coordenador do NUBIMED e principal investigador do estudo, publicado no fim de 2021 no European Journal of Respiratory Medicine.
Os dois fármacos foram testados porque estudos de simulação computacional e testes com animais experimentalmente infectados com o vírus SARS-CoV-2 indicavam que eles conseguiam inibir a enzima polimerase de RNA do vírus da covid-19, que é usada pelo SARS-CoV-2 para se multiplicar. Dessa forma, acreditava-se que os medicamentos poderiam reduzir a infecção e, consequentemente, a gravidade da covid-19.
A hipótese foi testada de novembro de 2020 a julho de 2021 no Ceará, com 227 pacientes encaminhados ao Hospital São José, em Fortaleza. Todos eles apresentavam suspeita clínica de infecção respiratória por SARS-CoV-2, de intensidade leve a moderada.
Os pacientes foram divididos em três grupos, acompanhados no hospital por um período de 10 dias. No primeiro grupo, 75 pacientes foram receitados com tenofovir, uma dose por dia de 300 mg. No segundo grupo, 74 pacientes receberam a mesma dose de tenofovir junto com uma dose de emtricitabina (200 mg/dia). O terceiro grupo foi formado por 77 pacientes tratados apenas com vitamina C (500 mg/dia).
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Os pacientes foram acompanhados por profissionais médicos ao longo do estudo. Nesse período, amostras de sangue e de secreções nasais foram coletadas para avaliação laboratorial no Núcleo de Biomedicina da UFC. Além dos dados laboratoriais, dados demográficos, sintomas clínicos e relatos de eventos adversos ao tratamento foram registrados.
Os resultados da pesquisa mostraram que o coquetel anti-HIV não gerou diferenças nos sinais e nos sintomas da doença em pessoas que receberam a substância em relação ao grupo de pacientes que recebeu apenas vitamina C.
Aldo Ângelo pondera que a pesquisa foi feita apenas com pacientes com quadro clínico leve e moderado e que a utilização dos medicamentos foi praticada em pessoas no sétimo dia de infecção pelo novo coronavírus, situações que ele aponta como limitações do estudo. Novas pesquisas com pessoas em quadro clínico grave e com início do protocolo no terceiro ou quarto dia do aparecimento dos sintomas são recomendadas, avalia o professor.
O estudo contou com a participação de pesquisadores do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN), da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (USP-Ribeirão Preto), da Faculdade de Medicina (USP-Ribeirão Preto) e da Rede Vírus, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
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