REPORTAGEM ESPECIAL

Discriminação marca luta de pessoas que vivem com HIV na busca por trabalho

Estigma é desafio diário na rotina de pessoas que vivem com HIV. Lei federal proíbe qualquer tipo de constrangimento

Compartilhe:
1 de dezembro de 2020
Ninho Digital

Negar emprego, demitir ou segregar uma pessoa que vive com HIV no ambiente de trabalho, é crime previsto em lei federal sancionada em 2014, com penas que variam entre reclusão de até 4 anos e multa. A conquista é recente e ainda não consegue reduzir o estigma deste grupo, que encontra dificuldades ancoradas no preconceito.

Discriminação marca luta de pessoas que vivem com HIV na busca por trabalho
Caso o paciente teste positivo, recebe acompanhamento imediato com psicólogos e médicos no Sistema Único de Saúde (SUS)

Isabela Lima (25)* é universitária em Fortaleza. Ela descobriu o diagnóstico há 2 anos e teve uma oportunidade de trabalho negada um pouco antes da pandemia de Coronavírus. “Fiz um teste para uma vaga de emprego que necessitava ter inglês fluente. Fui bem avaliada para a seleção. O trabalho era em um cruzeiro e eu precisava ficar um tempo em alto mar. Por isso, me perguntaram se eu tinha doença crônica ou alguma necessidade especial. Hesitei, mas contei a verdade. Disse que era HIV positiva, mas tinha condições de receber medicamentos para usar nesse tempo. Ainda assim, preferiram outra pessoa”, detalhou.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), pessoas que convivem com HIV encontram mais dificuldades para ingressar, permanecer e crescer dentro de uma empresa. O estudo entrevistou mais de 100 mil pessoas em 2018, mesmo período em que Isabela teve seu diagnóstico. “De início não surtei, só chorei quando cheguei em casa”, relembrou.

Direitos

Discriminação marca luta de HIVpositivos na busca por trabalho

Sabrina Luz Pessoa luta pelos direitos de HIV positivos | Foto: Arquivo pessoal

Os avanços científicos são notórios. Caso o paciente teste positivo, recebe acompanhamento imediato com psicólogos e médicos no Sistema Único de Saúde (SUS). Em seguida, recebe os medicamentos para uso diário. Nos meios de comunicação, tradicionais ou não, conteúdos são divulgados para conscientizar sobre a luta contra a discriminação. Ainda assim, ela persiste.

“Quando descobri, trabalhava em uma casa de família. Quando saiu o resultado, contei. Passaram uns 15 dias e conversaram comigo, dizendo que estavam sem condições de me pagar. Disseram que o que eu fazia, iriam fazer. Eles ainda contaram que sabiam que eu precisava de dinheiro, mas que a minha demissão não tinha relação com a doença. Eu achava tranquilo, na época. Depois percebi que não tinha sido por causa disso, mas por falta de conhecimento, medo. Eu vi que realmente não foi por causa da situação financeira”. Sabrina Luz Pessoa, ativista.

De acordo com a UNAIDS, programa das Nações Unidas, “A pessoa vivendo com HIV tem o direito de manter em sigilo a sua condição sorológica no ambiente de trabalho. Isso inclui testes de admissão, testes periódicos ou de demissão. O médico tem a obrigação de somente averiguar a capacidade laborativa do trabalhador nos exames legais (Art.168 da CLT), sem referência a seu estado sorológico. Em caso de violação, deve-se registrar o ocorrido na Delegacia do Trabalho mais próxima”.

Leia mais | Dezembro Vermelho: Informação é saída contra o preconceito

Prefeitura amplia a oferta de testes rápidos de HIV/Aids nos postos de saúde

Relacionamentos

Isabela relembra que após o baque do diagnóstico, buscou muita informação para saber como proceder a partir daquele momento. “O que me complicou é que se eu estava me relacionando com alguém que eu tava me interessando e sentia vontade de falar, quando revelava, o interesse do outro podia mudar. Contei para duas pessoas. Elas não me trataram mal, mas deixaram de falar comigo. Tiveram outras que reagiram tranquilamente”, detalhou.

Tratamento

Discriminação marca luta de HIVpositivos na busca por trabalho

Tratamento para o vírus é feito gratuitamente pelo SUS | Foto: Rodrigo Nunes / MS

“Com as medicações que temos hoje, a expectativa de vida de um paciente com HIV é igual a de uma pessoa que não tem o vírus”, destacou Melissa Medeiros, infectologista do Hospital São José, referência no Ceará.

Para quem convive com o vírus no corpo, a especialista afirmou que além dos remédios, existem outros cuidados a serem tomados para o paciente se manter indetectável. “O que vai impactar na qualidade de vida dessa pessoa é o cuidado para evitar as comorbidades. É preciso se preocupar com pressão arterial, diabetes, excesso de peso… São cuidados gerais que são importante no dia a dia”, pontuou.

Além disso, fazer um check-up anual é outro cuidado importante “para saber como está a função renal, a função hepática e ver se os órgãos estão trabalhando bem. São avaliações que precisam ser, pelo menos, anuais para que se tenha o termômetro se alguma coisa não está indo bem”, completou.

Hospital São José

O Hospital São José, em Fortaleza, é referência no tratamento de HIV/Aids. Funcionando desde 1980, mantém 10.796 pacientes cadastrados para retirada de remédios e acompanhamento.

A unidade mantém consultório 24 horas para emergência, que atende pacientes diagnosticados e que tiveram alguma complicação ou pessoas que tiveram algum tipo de exposição ao vírus, como manter relação sexual sem uso de preservativo. Para mais informações, ligue (85) 3101-2345.

*A identidade foi alterada para garantir o anonimato da entrevistada. 

WhatsApp do GCMais

NOTÍCIAS DO GCMAIS NO SEU WHATSAPP!

Últimas notícias de Fortaleza, Ceará e Brasil

Lembre-se: as regras de privacidade dos grupos são definidas pelo Whatsapp.