O Brexit diminuiu a estatura do Reino Unido em todos os sentidos
Em 23 de junho de 2016, o Reino Unido decidiu acionar o artigo 50 do Tratado de Lisboa e iniciar sua saída da União Europeia. Por uma margem apertada com 51,89% contra 48,11% da preferência, o que seria uma promessa de reviver o passado glorioso do Império em que o sol nunca se põe, passou a ser uma possível derrocada sem volta da terra de Sua Majestade.
Nas palavras de Sir John Major, que serviu como primeiro-ministro do Reino Unido entre 1990 e 1997 pelo partido conservador, seu discurso para a The Honourable Society of the Middle Temple, em 09 de novembro, retrata o porquê de o Brexit ter sido uma mentira e por que as consequências futuras podem acabar com o Reino Unido para sempre, ironicamente fortalecendo a União Europeia.
“A principal mudança ocorrida na Nova Grã-Bretanha, e que está sendo forjada, é o Brexit”. Ele está escondido atrás da Covid-19 há alguns meses. Não foi embora. Você tem que negar voluntariamente para não ver o dano que já foi feito e não se preocupar com o que isso pode significar.
O Brexit separou a Inglaterra e o País de Gales da Escócia e da Irlanda do Norte. Ele dividiu partidos políticos e famílias; os jovens e os mais velhos; negócios e sindicatos; e amigo de amigo. À medida que seu impacto total se torna aparente para o ano novo que se avizinha, velhas feridas podem reabrir.
Não há consenso sobre o Brexit, e nunca houve. Foi uma política extremamente divisionista e desabou em um populismo que pode ser difícil de reprimir.
O debate do Referendo foi diferente de qualquer outro que eu tenha tido conhecimento antes. A emoção superou a realidade. Na busca por corações, mentes e votos, a ficção derrotou o fato e fomentou a crença em um passado que nunca existiu – enquanto aumenta o entusiasmo por um futuro que pode nunca existir.
Se esse modo de política criar raízes, isso acabará com todo o respeito em nosso sistema de governo.
No referendo, os britânicos votaram pela saída da União Europeia. Nunca escondi minha visão, nem a mudei. Em minha opinião, – e não sou um europeu deslumbrado – o Brexit é a pior decisão de política externa que conheci em minha vida.
Tenho visto a União Europeia por dentro e conheço as suas frustrações, mas não tenha dúvidas de que estamos melhor dentro do que fora.
A decisão de dividir nos prejudicará no futuro de várias maneiras, e as garantias que recebemos não são convincentes e seguras.
O Brexit foi vendido aos nossos eleitores com falsas promessas e pretensões.
As promessas feitas não serão – na verdade, não podem – ser cumpridas. Deixar a UE – separar-nos dos nossos vizinhos foi um ato de compra e venda para a “reconquista da soberania”, mas é, e irá revelar-se, uma longa e ‘dolorosa’ corrente de ferro no nosso bem-estar nacional.
Após o referendo, os Brexiteers – que votaram pela saída – nem se deram ao trabalho de discutir o mérito do seu caso – por que deveriam? – era “a vontade do povo”.
Uma vez que “a vontade do povo” foi afirmada como um mantra repetido – e os líderes do Brexit afirmaram falar por todo “o povo” – qualquer oposição ao Brexit tornou-se ilegítima, e qualquer opinião contrária foi rejeitada.
A liberdade de expressão para aqueles que apoiaram a permanência na UE teve um preço. Eles foram ridicularizados como “Remoaners” ao aderir a princípios e políticas de longa data, e advertir sobre os perigos claros à frente, que foi descrito como o “choro dos perdedores”.
Até mesmo juízes foram denunciados como “inimigos do povo” por decidirem sobre uma questão de lei que os prejudicava. Os oponentes do Brexit foram intimidados, e a liberdade de expressão foi restringida. Foi uma vergonha. Nenhuma democracia será democrática em tal posição.
No exterior, o resultado do Referendo encantou nossos inimigos e desanimou nossos amigos. Enquanto nossa nação votava contra sua história e seus próprios interesses, um mundo perplexo observava, perguntando-se por que havíamos optado por nos tornarmos mais pobres e menos influentes.
O Brexit foi vendido ao país como uma situação ganha-ganha. Não é! Foi-nos prometido que permaneceríamos no Mercado Único. Nós não estamos! Disseram-nos que o comércio com a UE ocorreria sem atritos e sem burocracia. Não vai ser assim! Foi-nos prometido que economizaríamos bilhões em pagamentos à União Europeia: um ônibus circulou pelo país nos avisando disso. Não é bem assim! O Brexit está custando bilhões, e não estamos poupando nada! Disseram-nos que nosso “país libertado” poderia reduzir a burocracia e os regulamentos. Agora sabemos que eles vão aumentar – e dramaticamente.
Foi-nos prometido que faríamos negócios comerciais lucrativos com a América, a Índia, a China e com outros países em pouco tempo. Japão à parte – nós não estamos avançando em ponto algum.
Mais recentemente – e pela primeira vez em nossa longa história – os ministros propuseram uma legislação que lhes confere poderes para infringir a lei e não honrar acordos internacionais. Esta é uma ladeira escorregadia em que nenhum governo democrático deveria trilhar.
Afirmava-se que o Brexit não aumentaria o apoio à independência da Escócia ou à união das Irlandas. Isso está acontecendo!
Desafia a lógica que homens e mulheres inteligentes que fazem tais promessas extravagantes não soubessem que tais promessas eram impossíveis de ser cumpridas – e ainda assim continuaram a fazê-las.
Era política. Foi uma campanha. Foi por uma causa definida.
Também era imperdoável.
Se é dessa forma que vamos conduzir nossos assuntos públicos, então não apenas nossa política realmente ‘cairá’ em um lugar nefasto, mas também nossa palavra como nação não será mais confiável.”
Sempre achei que o Brexit era uma ideia que diminuiria a estatura do Reino Unido em todos os sentidos, e infelizmente estamos assistindo a isso diariamente. Acredito que se de alguma maneira isso não for revertido, o que é muito improvável, assistiremos à reunificação da Irlanda e à ascensão de uma futura República da Escócia dentro da União Europeia, isolando ainda mais o que pode vir a se tornar apenas o “Reino Unido da Inglaterra e do País de Gales”.
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